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domingo, 30 de julho de 2006

Com o aumento dos investimentos iranianos no país de Chávez, americanos buscam sinais de 'exportação de terror'

A fábrica de tratores VenIran, no remoto leste da Venezuela, é um dos sinais da crescente presença iraniana no país, monitorada por um governo americano em estado de alerta para qualquer evidência de que o Irã esteja exportando terrorismo. Tais evidências seriam convenientes para os EUA, que tentam a todo custo evitar que a Venezuela garanta a cadeira rotativa latino-americana no Conselho de Segurança da ONU. A votação será em em outubro.

Os EUA dizem que a Venezuela seria uma força "de ruptura" que "buscaria a desavença" no Conselho de Segurança. Funcionários americanos citam como evidência a recusa da Venezuela, ao lado da Coréia do Norte, de apoiar a resolução de março do conselho diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) criticando o programa de desenvolvimento de materiais nucleares do Irã.

Ainda em março, os primeiros tratores vermelhos saíram da fábrica em Ciudad Bolívar, centro industrial à margem do Rio Orinoco. A indústria, que agora produz 40 tratores por semana, será seguida por uma fábrica de ônibus e outra de cimento, em empreendimentos conjuntos do Irã e Venezuela.

Funcionários venezuelanos dizem que as iniciativas são mera conseqüência da amizade entre os dois membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Segundo eles, o país anfitrião tem muito a aprender com a estrutura das várias cooperativas socialistas do Irã, parte central do novo modelo econômico seguido pelo presidente Hugo Chávez.

A fábrica de tratores é um Núcleo de Desenvolvimento Endógeno, termo do programa de criação de empregos que Chávez promove para atrair trabalhadores de cidades superlotadas e congestionadas como Caracas e Maracaibo. O Irã criou dezenas de companhias híbridas geridas pelos trabalhadores e pelo Estado, como a VenIran, disse um funcionário do governo venezuelano.

Fontes do governo dos EUA afirmam estar monitorando a presença iraniana, atentos para qualquer atividade perversa.

Em breve, poderá haver muita coisa a monitorar. Numa visita à Venezuela no mês passado, um vice-ministro da Indústria iraniano disse que o Irã planeja investir US$ 9 bilhões em 125 projetos no país. Entre eles está a fábrica de cimento, em construção no Estado de Monagas, ao lado de 2.500 unidades de alojamento de trabalhadores.

Quanto à fábrica de tratores, funcionários americanos fazem piada sobre o que realmente estaria sendo produzido ali - um exemplo da desconfiança e do rancor que dominam as relações entre os EUA e a Venezuela nos últimos anos. Chávez denuncia o "imperialismo" dos EUA, enquanto dirigentes americanos o retratam como simpatizante de terroristas - especificamente das Farc, o maior grupo rebelde colombiano, classificadas oficialmente como organização terrorista pelo Departamento de Estado americano.

Funcionários dos EUA suspeitam que Chávez esteja cedendo espaço de descanso e recreação a grupos guerrilheiros ao longo da fronteira de seu país com a Colômbia. Chávez nega energicamente estar ajudando guerrilheiros da Colômbia.

Funcionários dos EUA reconhecem que não há evidências de envolvimento direto de Chávez com terrorismo. Eles qualificaram de infundado um rumor segundo o qual a Venezuela estaria vendendo urânio ao Irã ou venderia em breve. A Venezuela tem depósitos de urânio conhecidos no Estado do Amazonas, mas o minério não está sendo extraído, disseram eles.

A fábrica de tratores fica num parque industrial no despovoado Estado de Bolívar, do qual Ciudad Bolívar é a capital. Cerca de 70 trabalhadores venezuelanos estão na folha de pagamento, com oito gerentes iranianos. O prédio ficou abandonado por 30 anos depois que outro programa de criação de empregos patrocinado pelo Estado, também para a fabricação de tratores, entrou em colapso meses depois da inauguração da fábrica, em meados dos anos 70. Apesar da dimensão modesta de projetos como este, diplomatas ocidentais na região ficam apreensivos ao ver o Irã estabelecer uma base comercial na Venezuela, temendo que os objetivos da República Islâmica na região não se limitem aos negócios. Embora sem provas de que o Hezbollah, organização militante libanesa, tenha montado operações na Venezuela, fontes do governo dos EUA observam que embaixadas iranianas têm financiado, permitido e, em alguns casos, abrigado operações do Hezbollah. O grupo, classificado como terrorista pelos EUA e Israel, é suspeito de envolvimento no atentado a bomba contra um centro comunitário judaico em Buenos Aires em 1994. "Seria lamentável a aliança Irã-Venezuela criar uma base de operações mais próxima do território americano", disse um funcionário dos EUA. "As embaixadas iranianas e o Hezbollah parecem caminhar juntos."

Funcionários de Washington também temem que o Irã ofereça à Venezuela seu know-how sobre o reparo de jatos de fabricação americana. O Irã lida com esses aviões desde 1979, quando os EUA cortaram as relações diplomáticas e a ajuda militar, deixando os iranianos com numerosas aeronaves militares americanas. Os EUA se recusam a entregar a Chávez peças de reposição dos 24 caças F-16 que seu país adquiriu em 1982 e temem que Teerã lhe mostre como mantê-los em operação sem elas - como os militares iranianos parecem estar fazendo com sua frota de F-111, F-14 e F-5 comprados quando o xá estava no poder.

A BBC informou neste mês que, segundo um memorando diplomático americano intitulado "Derrotando a Venezuela no assento não-permanente de 2006 no Conselho de Segurança da ONU", os EUA temem que a Venezuela use a cadeira como "tribuna ideológica".

O governo Bush faz campanha para que a Guatemala obtenha a vaga e pressiona outras nações latino-americanas para que também apóiem o país, disseram fontes da ONU.

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