Pesquisar este blog

domingo, 3 de setembro de 2006

Investimentos em infraestrutura e expansão caem pela metade no governo Lula

Os investimentos no aumento da produção caíram pela metade no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, na comparação com os três últimos anos de Fernando Henrique Cardoso. Levantamento da Economática com 231 empresas de capital aberto, exceto Petrobrás e Companhia Vale do Rio Doce (ver abaixo), mostra que o total de investimento líquido - descontadas as despesas com manutenção e reposição de peças e equipamentos - despencou 48,9%, ou de R$ 83,5 bilhões nos anos de 2000, 2001 e 2002 para R$ 42,7 bilhões em 2003, 2004 e 2005.
Já o investimento bruto, que considera gastos com manutenção e reposição, caiu 21% em relação ao governo FHC, de R$ 196,86 bilhões para R$ 153,87 bilhões, afirma o presidente da Economática, Fernando Exel. Segundo ele, o que faz a economia crescer é o investimento líquido, pois eleva a produção. “A manutenção ajuda, só que em menor escala.”

De acordo com o estudo, entre os setores que mais contribuíram para investimentos maiores no governo passado estão telecomunicações e energia. Juntos, eles fizeram investimento líquido de R$ 37,13 bilhões nos anos de 2000, 2001 e 2002 - valor três vezes superior ao verificado em 2003, 2004 e 2005 (ver quadro ao lado). O resultado é justificável por causa das privatizações ocorridas pouco antes.

O superintendente da Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil), Cesar Rômulo Silveira Neto, destaca que os investimentos no governo passado foram em expansão e modernização das redes e melhoria da qualidade de serviço. No caso da telefonia fixa, além do atendimento da demanda, os recursos aplicados atendiam ao Plano Geral de Metas de Universalização até 2005.

“O pico, em 2001, deve-se ao esforço de antecipação de metas de 2003 para 2001 para que as concessionárias de telefonia fixa pudessem oferecer serviços fora das regiões de concessão.” Um novo ciclo de investimentos, diz ele, exigirá melhora da regulamentação do setor e a independência da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que tem sofrido interferências do Executivo.

Na área de energia elétrica, a situação não é diferente. Investiu-se muito na pós-privatização para melhorar o sistema de distribuição e alguns projetos de geração saíram do papel, já que havia a iminência de racionamento - o que acabou ocorrendo em 2001. Depois disso, porém, houve paralisia no setor, à espera do novo modelo de energia. Exemplo disso é que o primeiro leilão de licitação de hidrelétricas do governo Lula ocorreu apenas em 2005.

Na Suez, controladora da Tractebel, a maior geradora privada do País, os últimos investimentos foram a Termoelétrica William Arjona, inaugurada em 2001; as Hidrelétricas Machadinho e Cana Brava, em 2002; e a térmica Lages, em 2003. A Hidrelétrica de São Salvador foi licitada em 2001, mas só conseguiu a licença de instalação em 2005.Já a Usina de Estreito, licitada em 2002, ainda aguarda licença de instalação.

“Há grandes entraves no setor de energia que precisam ser retirados para tornar o ambiente mais atraente ao investimento privado”, afirma o presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales, referindo-se à questão ambiental, riscos regulatórios e impostos elevados.

Tirando energia e telecomunicações, o investimento líquido dos demais setores também diminuiu, de R$ 46,34 bilhões para R$ 31,38 bilhões. Segundo o economista da RC Consultores, Fábio Silveira, o setor de siderurgia, por exemplo, investiu muito no passado para elevar a capacidade instalada. “Em 2000, com o nível de atividade elevado, houve uma gritaria geral de que haveria esgotamento da capacidade do setor. Veio o racionamento, mas não dava para voltar e as empresas mantiveram os investimentos.”

Com a demanda fraca nos anos seguintes, completa Silveira, não houve necessidade de expandir a produção. De 2000 a 2002, a Usiminas investiu US$ 636,99 milhões em aumento de produção e atualização tecnológica, entre outros. No período seguinte, a aplicação somou US$ 240 milhões. Nesse caso, no entanto, o grande investimento foi feito na década de 90, quando foram investidos US$ 2,7 bilhões.

A empresa, porém, tem planos de expansão. Mas, segundo o presidente da Usiminas, Rinaldo Campos Soares, a construção de uma nova usina só seria viável mediante duas condições básicas. “A usina deverá ser construída em parceria com outras empresas para ganhar escala e minimizar os riscos. Além disso, a produção deverá ter a demanda assegurada no exterior por meio de laminação própria ou de contrato de longo prazo com parceiro internacional.”

Na avaliação do economista da MB Associados Sérgio Vale, uma das explicações para a diferença de investimento entre os dois governos é o cenário de câmbio. “Naquela época as empresas queriam investir não só para atender ao mercado interno, mas também para serem plataforma de exportação.” Hoje, completa ele, a combinação de dólar baixo, carga tributária elevada e altos custos de logística reduz a competitividade do País.”

Estadão

Nenhum comentário: