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quinta-feira, 14 de setembro de 2006

Ministro mais realista que o rei

O que leva um ministro da importância do titular da pasta da Fazenda, Guido Mantega - confirmado no cargo para os próximos quatro anos da reeleição - a aparecer nos noticiários da TV para repetir a sovada e desacreditada explicação de que o pacote anunciado pelo governo para o setor imobiliário, às vésperas da rodada do primeiro turno, foi uma simples coincidência?

Francamente, a exibição constrangedora de puxa-saquismo explícito é perfeitamente dispensável. E é simplista a justificativa de que os estudos para facilitar a caminhada da construção de moradias estavam na pauta oficial há muito tempo e, por um acaso afortunado, o projeto ficou pronto, a estalar como pão no forno, quando faltam 19 dias para a fila de eleitores para o exercício do dever da cidadania.

Estamos, portanto, diante de um ministro que não se constrange em engabelar o distinto público que vota com uma patranha que não passa pela goela do mais distraído e fanático eleitor de Lula.

Os embaraços não param aí. Em mais uma bem-aventurada simultaneidade de bilhetes premiados, a célere gratidão do ministro manifestou-se no dia seguinte ao episódio que vazou das intimidades palacianas: no mesmo lance, o candidato-presidente aconselhou o pressuroso sucessor do encalacrado Antonio Palocci a apressar a mudança do hotel para a mansão oficial num dos mais luxuosos endereços de Brasília.

Seria mais fácil e decoroso ter-se limitado a defender as vantagens e benefícios do lance eleitoral, tramado com todas as astúcias do mais descarado oportunismo. Ninguém pode criticar a opção que permite eliminar a Taxa Referencial (TR) nos contratos para a compra de imóveis ou a permissão dos descontos em folha das prestações da casa própria, regada pela promessa da abertura de crédito de R$ 1 bilhão para já, ainda este ano.

Para não ficar fora do cordão que cada vez aumenta mais, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, assumiu a tribuna para defender o governo e a legenda sem mácula, das suspeitas que rondam a entrega ao partido das cartilhas que enaltecem as obras que estão mudando o país, para distribuição ao público alvo, dono dos votos. De logo, a retificação encolhe o deslize. Não foram mais de 2 milhões as cartilhas, mas exatamente 929.940, contadas uma a uma, da encomenda da Secretaria de Comunicações (Secom) e gentilmente confiadas ao Partido dos Trabalhadores para a edificação dos eleitores.

Pois o presidente Berzoini critica o Tribunal de Contas da União (TCU) por ter divulgado a investigação "em pleno processo eleitoral".

Na faxina de última hora para varrer o lixo amontoado nos cantos, o presidente da Câmara, deputado Aldo Rebelo, anunciou a extinção de 1.018 cargos de confiança que empestam a folha de pagamento da Casa. A varredura estará completa até o dia 3 de outubro, quando já devem ser conhecidos os resultados do primeiro turno das eleições.

Com todas as loas à tardia dedetização, o pasmo com a dimensão do abuso mexe com as últimas reservas de esperança da sociedade. Como chegamos a tal descalabro? As mais de mil sinecuras mandadas para o espaço representam 49% do total dos apelidados cargos de natureza especial (CNE) que credenciam os felizardos a embolsar de R$ 1.500 a R$ 8.220 mensais sem sair de casa, sem obrigações a cumprir, sem nada que fazer.

É o mensalão doméstico, ao custo de R$ 9 milhões mensais. E ainda temos que bater palmas à redução de 30% do saque...
Villas Boas Correa no JB

Um comentário:

Anônimo disse...

Mamma Mia... Estou boquiaberta com a audacia dessa gente!... E o que esse TCU, a MP, a PF, a OAB, estão esperando para tomar providência e enquadrá-los nas leis eleitorais?
Acorda, Brasil!

Ciça