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segunda-feira, 9 de outubro de 2006

Cartões corporativos- o calcanhar de aquiles de Lula

O candidato Geraldo Alckmin pegou todo mundo de surpresa. Surpreendeu, principalmente, o adversário. O presidente Luiz Inácio da Silva ficou pelo menos dois dos cinco blocos - que seriam mais bem definidos se chamados de 'rounds' - completamente na defensiva, nas cordas.

Depois, recuperou-se um pouco e usou do recurso da ironia para manter certo equilíbrio numa situação que se avizinhava totalmente desequilibrada. Alckmin abriu o debate já fazendo referência à ausência de Lula nos outros debates e, na primeira pergunta, atacou forte, falando do dinheiro do dossiê contra os tucanos.

O presidente Lula, é claro, esperava questionamento sobre os escândalos, mas evidentemente não fazia idéia de que o tom de Alckmin fosse incisivo como foi. Aliás, pela reação dos correligionários do tucano presentes ao estúdio da TV Bandeirantes, nem o PSDB nem o PFL tinham noção de que o candidato teria desempenho tão veemente.

Tanto que o presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati, a certa altura brincou que o senador Arthur Virgílio - o mais agressivo dos líderes de oposição no Congresso - estava pedindo 'moderação' a Alckmin.

Troca de acusações, guerra de números e provocações que, em alguns momentos, quase terminaram em bate-boca marcaram ontem o primeiro debate do segundo turno da eleição presidencial, na TV Bandeirantes. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) optou por ler as perguntas. Geraldo Alckmin (PSDB) tinha números na ponta da língua e adotou um tom incisivo até então inédito na campanha. O confronto quase desandou. 'É bom ir devagar com isso', disse o presidente. 'Respeito, candidato', afirmou o ex-governador, quando Lula tentou interrompê-lo.

O momento mais duro foi quando o tucano perguntou se Lula abriria o sigilo dos cartões corporativos que fazem as compras para o gabinete presidencial. Lula respondeu, repetindo várias vezes, com o cenho carregado: 'Não seja leviano!' Alckmin afirmou que não joga 'nas costas de amigos os problemas do governo' e bradou: 'Eu assumo os problemas!' Lula devolveu: 'Meu adversário decora chavões para participar de debates. Os tucanos já governaram muitos Estados e só sabem cortar gastos nos salários do povo. Fizemos o País crescer como nunca nos últimos 20 anos.'

Alckmin perguntou: 'Candidato Lula, de onde veio o dinheiro sujo, R$ 1,75 milhão para comprar um dossiê falso?' Lula reagiu: 'Eu quero saber quem arquitetou esse plano maquiavélico. Quero saber quem fez essa negociata, porque o único ganhador nesse trambique todo foi o meu adversário.' Ao final, garantiu que a Polícia Federal 'vai descobrir'. O tucano ironizou: 'Não sabe também. Não teve nem a curiosidade de perguntar pro seu churrasqueiro, para o seu diretor do Banco do Brasil, para o seu secretário do Trabalho do ministério, para o presidente do seu partido.'

Na defensiva, Lula rebateu: 'Respondo com muita clareza. Eu não sou policial. Existem regras para investigar. O que é pertinente nós fizemos, afastamos todos os envolvidos. Não tenho medo de debater a verdade.'

O presidente acusou Alckmin de agir como se pretendesse arrancar informações sob tortura, 'como acontecia na ditadura'. Alckmin respondeu: 'Não precisa torturar para saber de onde veio o dinheiro, é só perguntar aos membros do PT. É só chamar os seus amigos de 30 anos e perguntar.'

Lula partiu para o ataque. Disse que o esquema dos sanguessugas começou no governo Fernando Henrique e falou de Barjas Negri, ex-ministro tucano citado no escândalo que depois foi secretário de Habitação do governo Alckmin. O ex-governador reagiu: 'Não meça as pessoas pela sua régua. Não tenho em meu governo ministros e assessores condenados', disse. 'O escândalo dos sanguessugas é do seu governo. Se começou antes, deveria ter punido.'

Alckmin foi cobrado pelos 69 pedidos de CPIs recusados pela Assembléia paulista, durante sua gestão. 'Não movi um dedo para parar nenhuma CPI', acrescentou Lula. Alckmin deu resposta irônica: 'Quanta mentira, como Lula mudou! As CPIs (federais) só saíram porque (o então deputado) Roberto Jefferson contou a verdade para o Brasil. Houve crise no PT porque alguns deputados tinham assinado a CPI. AS CPIs saíram porque o governo foi derrotado.'

O tucano fez propostas de apelo popular. Depois de condenar a compra de um avião para a Presidência, citou países cujos governos não têm avião e prometeu: 'Vou vender esse Aerolula e fazer cinco hospitais com o dinheiro.' Ele disse que é diferente de Lula: 'Nós somos diferentes. São Paulo tinha dois aviões, eu vendi os dois. Tinha dois helicópteros, eu doei os dois para a Polícia Militar. É preciso criar um clima de respeito com o dinheiro público.'

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