Pesquisar este blog

segunda-feira, 2 de outubro de 2006

Quem não ajuda,atrapalha

Amontoam-se na democracia brasileira problemas conceituais e operacionais. Não estou dizendo que o sistema de governo e as regras do jogo político, incluindo a lei eleitoral, a lei orgânica dos partidos e o sistema de representação estejam longe da perfeição. O que estou afirmando é que estão perto demais da imperfeição absoluta. Há pouca coisa para piorar. Nesse pernicioso contexto, que muito contribui para o desalento popular com a política, para o descrédito da democracia, para a péssima imagem dos que se dedicam à vida pública e para a institucionalização da corrupção, as pesquisas de opinião se atravessam como mais um gravíssimo complicador.

Antes do surgimento das pesquisas, o conteúdo das urnas constituía segredo inviolável. Os votos eram contados depois da eleição. A esperança era a última que morria no coração dos candidatos e seus eleitores. Com a divulgação das pesquisas, os votos são, em tese, somados antes do pleito. Não é mais a convicção do eleitor que determina seu voto. Em incontáveis ocasiões, ele deixa de votar em quem efetivamente deseja ver eleito para optar por quem lhe informam que vai ganhar ou contra quem ele quer ver derrotado. Não é mais a preferência dos contribuintes para as campanhas que determinam doações (sem as quais, no atual modelo, não se mobilizam as máquinas partidárias), mas é a posição dos candidatos nas pesquisas que define o fluxo dos recursos. As pesquisas são as novas senhoras da democracia brasileira.

Ano após ano, eleição após eleição, os institutos erram. Erram escandalosa, flagrante e desavergonhadamente. E, nem por isso, deixam de se apresentar no pleito seguinte, como arautos da vontade popular. Transformam cada eleição numa sucessão de suspeitíssimas eleições, influenciando a opinião pública e determinando votos com força infinitamente superior à qualificação dos candidatos, de suas mensagens e campanhas.

Passado este pleito, cabe indagar: a) o resultado da eleição presidencial seria o mesmo não tivessem as pesquisas assegurado, por tanto tempo e larga margem, a eleição de Lula no primeiro turno? b) Olívio Dutra não está no segundo turno estadual gaúcho graças a um movimento dos eleitores, influenciados pelas pesquisas, que visavam exatamente o contrário? c) em que proporção isso serve à nossa frágil e, por diversas razões, incompetente democracia?

Penso que está na hora de cobrar uma trégua à divulgação de pesquisas eleitorais. Elas se substituem ao desejo do eleitor e se transformaram em novas soberanas da vontade popular. Errar é humano. Errar como erram certos institutos de pesquisa é diabólico.


Percival Puggina MSM

Um comentário:

moniquices disse...

Bom dia Ro. Olha só,tá de lay novo... Eu sabia que tu amanheceria revoltado por conta dos resultados mas depois que vi Clodovil e Color eleitos nada mais me surpreende nesse pais. Mas e ai, comprou o perfume que te falei? Beijão querido.