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quarta-feira, 1 de novembro de 2006

Ovo da Serpente - Dora Kramer
O presidente interino do PT e assessor especial do presidente da República, Marco Aurélio Garcia, condenou pró-forma os ataques dos militantes petistas à imprensa que acompanhava a chegada de Lula ao Palácio da Alvorada na segunda-feira, mas em seguida corroborou as agressões, ao pedir, num mal disfarçado apelo à 'auto-reflexão', que os meios de comunicação se retratem das críticas que fazem ao governo.
Foi isso o que quis dizer quando exortou os jornalistas a 'refletirem' sobre o 'papel que tiveram nesta campanha eleitoral'. Conviria ao dirigente partidário dublê de assessor presidencial expor com mais clareza seus pensamentos no lugar de se escorar num alegado 'sentimento que atravessa uma parte dos jornalistas nas redações' em favor de uma revisão de procedimentos.
Marco Aurélio Garcia faria melhor se dissesse com todos os efes e erres que papel foi esse e qual agressão à democracia cometeram os autores de artigos, reportagens e editoriais que contrariaram as vontades e as conveniências do governo.
Não saberá dizer, a menos que diga que o crime é de insubordinação, mas aí terá de assumir seu cacoete autoritário.
Na campanha passada, com quase a totalidade dos veículos irmanados no entusiasmo pela eleição de Lula, muitos deixando de cumprir seu dever de apontar as evidentes deficiências do presidente, não houve convite à reflexão nem reparos ao 'papel' desempenhado pela imprensa naquele festival de bajulação. De onde a conclusão óbvia: para o governo, o que não é exaltação ou submissão, é desobediência civil passível de punição pelo exercício da intolerância.