Lula brinca com fogo ao bancar candidatura do petista Arlindo Chinaglia

O presidente da Câmara, Aldo Rebelo, percebeu que o presidente do PT, Marco Aurélio Garcia, não está agindo sozinho ao atrair o PMDB para a candidatura de Arlindo Chinaglia. Há um aval implícito do presidente Lula. Ao decidir se envolver na sucessão da Câmara, Lula corre o sério risco de ser derrotado. Hoje, dificilmente, Aldo desistiria de sua reeleição. Culpa o PT por ter inflado o movimento contra o reajuste dos parlamentares. Aldo foi o único a pedir bom senso na reunião dos líderes e avisá-los dos problemas que surgiriam com o aumento de 91%. O líder do Governo e também candidato, Arlindo Chinaglia, chegou a falar que Aldo era fraco e não tinha "peito" para bancar o aumento salarial. Era o PT fazendo o que mais gosta, apunhalar os aliados pelas costas.

Veio a revolta das ruas e o Congresso recuou. Aldo Rebelo foi o único a ter coragem de mostrar a cara. Apanhou, mas soube defender os deputados. Bem diferente de Chinaglia, que se escondeu, e ainda foi bater boca com o jornalista Jorge Bastos Moreno sobre uma notícia que falava da desistência de Chinaglia. Se Chinaglia se escondeu, muito pior fez o líder do PT, Henrique Fontana. Articulou dia e noite para derrotar o reajuste salarial dos deputados. Vitorioso, Fontana deflagrou o segundo movimento: responsabilizar Aldo Rebelo pelo desgaste no parlamento, criando daí a desculpa necessária para inviabilizar a reeleição dele. Aldo não vai engolir essa manobra. E conta com respaldo de boa parte da Câmara para ser candidato e enfrentar o PT e o Planalto, leia-se Lula.

Quem também está furioso com o PT são os líderes do PFL e do PSDB. Rodrigo Maia já avisou a Aldo Rebelo: ele será candidato se quiser e, desde já, tem o respaldo de toda a oposição. No PSB, Renato Casagrande, já garantiu que não há como votar em Arlindo Chinaglia. Nos partidos mensaleiros e sanguessugas - PP, PTB e PR(antigo PL) - há um sentimento majoritário de não fortalecer o PT, partido que não cumpre acordo e vive a querer se dar bem na vida, deixando mal, sempre muito mal, os aliados partidários.

Para completar o tabuleiro político, resta apenas o PMDB. O presidente nacional, deputado Michel Temer, quer driblar a bancada do partido, impondo por cima o apoio à candidatura de Chinaglia. Isso vai ser complicado. Temer aliou-se a Geddel Vieira Lima, que sonha em ser ministro, e aposta todas as fichas numa aliança com o PT. Só que o PMDB não irá unido. Nesta quarta, 20, os deputados peemedebistas chegaram para o próprio Temer e o avisaram: não dá para confiar no PT. Tentando buscar uma unidade que jamais será conquistada, o PMDB faz reunião na terça, 27, e em seguida irá ao Planalto. No Planalto, Lula estará esperando que o partido esteja lá o pressionando a abandonar Aldo e a incensar Chinaglia. Estará concluído o desenho final de mais uma derrota de Lula, que abrirá caminho para mais uma vez a oposição fazer a festa, reelegendo Aldo Rebelo sem nenhum compromisso com o Planalto e explodindo com 30 dias a tão propalada coalizão.

O presidente nacional do PT, Marco Aurélio Garcia, o deputado Arlindo Chinaglia e os mensaleiros petistas fazem outra previsão. Garantem que vão eleger Chinaglia, tomar a Câmara de volta para o PT, encurralar Lula a ceder mais espaço para o partido e ufa, possibilitar a anistia para o ex-ministro José Dirceu. Garcia não esconde de ninguém que o PCdoB é um partido stalinista, que saberá aceitar silenciosamente, ser mais uma vez engabelado pelos petistas. É a tradição do PCdoB ao longo dos anos é apanhar como mulher de malandro dos petistas, sem reclamar. Para comprovar que a história vai se repetir como farsa, basta Aldo Rebelo, renunciar a sua reeleição. E aceitar uma vaguinha no ministério de Lula. Isso o PT já conta que está valendo e espera apenas um encontro de Lula com Aldo para fechar a conta, e tirar o comunista de sua campanha reeleitoral.