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sábado, 12 de janeiro de 2008

A tomada e o interruptor

A entrega do Ministério de Minas e Energia ao político maranhense Edison Lobão, o antigo desafeto que se transformou oportunamente em afilhado do senador José Sarney, a quem o presidente Lula acha que lhe convém fazer o enésimo agrado, tem tudo para precipitar um desastre para a economia nacional que seria também um desastre político para o governo. Isso, por motivos de uma evidência solar, tais como a absoluta falta de credenciais do contemplado para a função, a ameaça de enfeudamento do setor, na administração direta e indireta, e a ameaça, cada vez mais evidente, de novo apagão energético (por escassez de chuvas para as usinas hidrelétricas e de gás para as térmicas). Há quem não aprenda com os próprios erros, mas aprende com os erros alheios. Nem esse parece ser o caso do presidente. O antecessor Fernando Henrique, no que se revelou a pior decisão de seus oito anos no Planalto, entregou a Energia a sucessivos políticos do PFL, que ficaram agachados amarrando as chuteiras enquanto se armava a crise no suprimento de eletricidade que se abateria sobre o Brasil em 2001. A possibilidade de que a história se repita é alarmante.Suponha-se que fosse confortável o volume de água nos rios dos quais depende essencialmente o sistema elétrico nacional. Suponha-se ainda que houvesse gás saindo pelo ladrão para complementar a oferta de energia em termos minimamente compatíveis com a expansão da demanda de uma economia que se manterá aquecida até onde a vista alcança, se o governo não atrapalhar. Nem por isso, a gestão do setor deixaria de ser matéria de segurança nacional - no sentido mais crucial do termo para o destino do País. Assim ela é concebida nos Estados melhor organizados do mundo contemporâneo, e não é preciso dizer por quê. Os gestores da área podem perfeitamente bem vir da esfera política ou ser indicados pelos líderes dos partidos que sustentam os governos de turno, desde que os ungidos saibam distinguir entre uma tomada e um interruptor. Disso não faz a menor idéia o senador Lobão, jornalista que se elegeu deputado pela Arena nos anos 1970 para ser mais um corifeu da ditadura no Congresso Nacional, escolheu o PFL quando voltou a democracia e agora em dezembro, antes tarde do que nunca, embarcou no ônibus do PMDB.Para responder à atual ocupante da Casa Civil, Dilma Rousseff, que continua a influir decisivamente na Pasta de que foi titular e desde a primeira hora mostrou seu horror à idéia de que fosse abocanhada por Lobão, ele argumenta que o economista José Serra foi um ótimo ministro da Saúde e o médico Antonio Palocci foi um dos melhores ministros da Fazenda. A comparação é infantil. Lobão ministro - quando a crise energética já está instalada, como sabem os industriais que compram energia no mercado livre - é prenúncio de catástrofe e dela o presidente Lula não poderá sair ileso. Uma coisa é um político profissional como o presidente do PMDB, Michel Temer, dizer a respeito da Energia que "é fundamental que os postos de direção de determinada empresa continuem com o partido que tem o ministro, podendo (sic) ser mantido um corpo técnico de produção", ou um ministro como José Múcio Monteiro, das Relações Institucionais, achar que "temos de estabelecer a resultante entre a necessidade política e a funcional". Outra coisa é o presidente da República criar as condições objetivas que facilitem o loteamento das estatais de eletricidade, na esteira da lobotomização do Ministério - em vez de efetivar no seu comando o interino (há sete meses) Nelson Hubner, que é do ramo, e acabar da maneira certa com a acefalia no setor energético.Em tese, Lula teria pouca liberdade para preservar a Energia da incompetência e da politicagem - para não falar da corrupção latente. "Temos um sistema político no qual, com freqüência, o governo depende de composições desse tipo para garantir a chamada governabilidade", observa o cientista político Fábio Wanderley Reis. "Chamada" é bem a palavra. "Não se sabe por que o presidente precisa de tanta gente apoiando o governo dele", ressalva o também cientista político Amaury de Souza. "Afinal, a única emenda constitucional que ele tentou passar foi a da CPMF." Tem mais. O apagão de 2001 foi letal para Fernando Henrique. Uma reedição da crise, em 2010 ou antes, atingirá Lula em cheio e será decisiva para a sua sucessão. Custa crer que ele não se dê conta disso.

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