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sábado, 6 de junho de 2009

O que derrubou o AF447


Apresento aqui,o ótimo artigo do piloto Patrick Smith(autor do livro "Ask the pilot").Ele escreve uma coluna no site salon.com ,de onde vem o texto abaixo,traduzido e adaptado por mim

Por que caiu o vôo AF447?

Fenômenos banais

Turbulência e tempestade de raios.

Algum desses dois fenômenos ,ou a combinação de ambos causou a queda ,sobre o Atlântico Sul,do vôo 447 da Air France no último domingo

As escassas evidências sugerem que sim.

Nenhuma das duas ocorrências,tempestade de raios ou turbulência são suficientes para derrubar um avião comercial.Vamos,então ,analisar os dois eventos,separadamente:

Turbulência:

Café derramado,bagagem caindo,nervos a flor da pele,um ou outro arranhão.Mas derrubaria uma aeronave?A julgar pela reação de muitos passageiros,diria que sim.Nunca se questionou o quão desagradável é uma turbulência aos milhares de passageiros embarcados em voos comerciais cotidianamente.Para Tom Bunn,um comandante de jatos comerciais aposentado nos EUA,que fundou a instituição SOAR,para pessoas que sofrem de pânico de voar,a turbulência,é,de longe,a preocupação número um de seus clientes.

Intuitivamente,faz sentido,não há nenhum lembrete mais pungente da fragilidade de um gigante suspenso no ar a 9000 metros de altitude que uns bons solavancos.É fácil a comparação do gigantesco jato nas alturas com um trôpego bote pego de surpresa em alto mar numa tempestade surpreendente.Cada solavanco pode ser o último.Mas ,não é bem assim,a não ser em raras circunstâncias.Para todos os intentos e propósitos,um avião,não pode ser virado de cabeça para baixo,dobrado como um envelope ou atirado ao chão por mais poderosa ou violenta que seja a turbulência.As condições podem ser irritantes e desagradáveis,mas não são,em última instância causadoras da queda da aeronave.A turbulência pode causar incômodo,até ferir passageiros que estejam com seus cintos de segurança desafivelados,mas são,por falta de termo melhor,normais.Quando pilotos mudam a altitude ou a rota por causa de turbulências,isso é apenas visando o conforto dos ocupantes,e não uma medida de segurança emergencial.O comandante não teme que as asas possam cair,apenas quer que sua tripulação e passageiros fiquem mais relaxados e contentes.

O passageiro aterrorizado,imagina um piloto suando em bicas,gritando ordens para a tripulação,enquanto briga com o manche com as duas mãos.Nada mais surreal.Na verdade um comandante experimentado,numa situação dessa,se recosta na poltrona e deixa os controles no automático,ao invés de tentar recuperar cada perda de altitude,efetuar várias correções.

Na verdade vários sistemas de piloto automático dos modernos aviões têm o modo "turbulência',que ao contrário de fazer numerosas correções, reduz a sensibilidade dos instrumentos nesses casos.

Bem,para que não me acusem de querem cobrir o sol com uma peneira,afirmo,com todo o respeito aos passageiros que saíram machucados de turbulências,que aeronaves foram feitas para suportar o estresse das forças G(sejam positivas ou negativas) a sólida construção das fuselagens são projetadas com este intuito.A engenharia conceitual de aviões meticulosamente levou em consideração situações de severa turbulência,ao construí-los.

O nível de turbulência necessário para danificar seriamente um avião é algo que o mais experimentado comandante de linhas comerciais talvez não veja em toda sua existência como profissional.Cerca de cinco milhões de passageiros embarcam em vôos comerciais todos os dias em 35000 decolagens ao redor do globo.Ainda na segunda metade do século passado,o número de aviadores derrubados por turbulências podem literalmente ser contados nos dedos de uma única mão,e em quase todas estas situações houveram circunstâncias extenuantes.

Tempestades de raios:

Quedas de raios em aeronaves são situações comuns.Um piloto de jatos é usualmente atingido por um raio a cada três anos,estatisticamente.Aeroplanos de linhas aéreas regionais que voam em altitudes menores onde há maior propensão para este tipo de ocorrência são atingidos uma vez por ano.Colocando de outra forma:Aproximadamente 26.000 jatos comerciais e turboélices estão voando no planeta.Supondo que um avião é atingido em cada dois anos,35 vôos são pegos diariamente.

Haja visto que nos últimos 50 anos só dois aviões foram abatidos por raios ,podemos concluir que esse tipo de fenômeno foi considerado pelos construtores de aeronaves.O alumínio é ótimo componente usado para dissipar a energia dos 300.000 amperes descarregados num único relâmpago.Os materiais compostos usados freqüentemente nas últimas gerações de aviões,não só são mais eficazes,como tendem a limitar os danos a áreas menos críticas como winglets,cones do bico,etc.Nas raras ocorrências quando surge um defeito e este causa algo mais sério,o mais comum é que não seja pane no sistema elétrico,Os sistemas elétricos nas aeronaves mais recentes são altamente complexos e altamente vitais .Num plano mais amplo,o sistema elétrico,é o mais crucial dos sistemas a bordo.Uma pane elétrica total ,por exemplo,pode ser a emergência mais calamitosa existente.Mas o típico desses sistemas é ter numerosos recursos anti-falhas sendo que emergências do sistema elétrico são ocorrências não usuais.

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Então o que temos até aqui?Dois tipos de evento ,que,pelo exposto acima, não fariam com que o vôo AF447 da Air France caísse.

Mas caiu.

E somos então forçados a reconhecer que fenômenos banais,embora considerados comumente inofensivos,podem se tornar fatais e até catastróficos,especialmente se ocorrem de forma simultânea.

No interior e no entorno de uma tempestade magnética ,raios e turbulência forte são corriqueiros.O vôo 447 passou por uma destas tempestades imediatamente antes de desaparecer completamente.O avião passou pela notória ZCT,ou zona de convergência tropical.

Estendendo-se por toda a linha do Equador ,essa notável ZCT é conhecida por excepcionalmente altas e intensas tempestades magnéticas. Foi o confronto com uma destas tempestades que ditou a fatídica sentença?Pode ser.É possível imaginar um sem número de enredos para o cenário tempestuoso descrito

Por exemplo,um raio extraordinariamente potente atinge o avião danificando os instrumentos primários,talvez com pane no sistema de alta tecnologia(hi tech),afetando o controle fly-by-wire.Talvez este fato em si não fosse suficientemente fatal,surgiria então,cumulativamente,um revés de turbulência intensa.

De acordo com o relatório da Air France,o jato mandou mensagem de status automática indicando pane elétrica e despresseurização de cabine.Estariam os evento correlatos?

Teria sido a queda de pressão interior causada pela turbulência?Talvez um pouco de granizo?Pedras de granizo destas enormes tempestades podem quebrar pára brisas,janelas e danificar as turbinas do avião.

Talvez nunca saibamos,mas acredite-me,nenhum piloto se imagina tendo que lidar com uma despresseurização repentina,pane total do sistema elétrico, no meio de uma tempestade daquelas.

Escuridão ,tempestade,controles que não obedecem,pane total no sistema elétrico,prognóstico sombrio.Claro,como haveria de ter se enfiado em tamanha tempestade?Se de fato o fez,nunca saberemos. Como todos os aviões, o Airbus A330 sofisticou o radar a bordo o que geralmente evitaria os temporais. E as tempestades na Zona de Convergência Tropical, com todo potencial destrutivo, poderiam ser isoladas e contornadas.(apenas desviando) Desta vez, algo diferente ocorreu. Como assim? Nós poderemos nunca saber. Nenhuma nota final na falta dos sobreviventes… Se o avião explodiu nas alturas, ou se bateu n'água,completamente fora de controle. Uma aterrissagem na água parece improvável.As façanhas do capitão Sully(aquele que pousou em Nova Iorque), talvez o piloto o mais sortudo do mundo, deixou todos estragados(com excesso de esperança).

Infelizmente , não eram as calmas águas do Rio Hudson na terna luz do dia. Era o Atlântico ,encapelado,com vagas de quatro metros,nas trevas,açoitado pela tempestade .

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