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domingo, 9 de julho de 2006

Ciça Guedes entrevista autor de "O Manual do perfeito idiota latino-americano"

"Há uma epidemia de idiotice capitaneada por Chávez’

Há dez anos o escritor cubano Carlos Alberto Montaner escreveu o “Manual do perfeito idiota latino-americano”, com Vargas Llosa e Plinio Mendoza. O livro — um libelo contra o populismo que, para Montaner, tem nova onda na América Latina — causou furor com sua lista de idiotas. Agora o militante anticastrista, que fugiu de Cuba com 17 anos e morou em vários países, vivendo hoje na Espanha, escreve uma nova versão e diz: FH sai da lista, mas Lula fica.

Na edição de 96 do “Manual do perfeito idiota latino-americano”, a lista de idiotas incluía Fernando Henrique e Lula. O senhor diz que Fernando Henrique é autor do “manual da seita” dos populistas (“Dependência e Desenvolvimento na América Latina”), mas curou-se com muitas leituras, o que Lula não fez. Na nova lista, FH sai e Lula fica?

CARLOS ALBERTO MONTANER: A nova edição do “Manual”, que sairá em breve, é quase urgente diante do surgimento de uma espécie de epidemia de idiotice capitaneada por Hugo Chávez. Fernando Henrique não estará na nova lista, embora o editor nos tenha sugerido um capítulo sobre ex-idiotas notáveis felizmente curados, no qual poderíamos incluir a nós mesmos — eu, Plínio Mendoza e Vargas Llosa. Sem dúvida o nome de Lula estará na lista, mas dentro da benigna epígrafe da doce esquerda vegetariana.

E quem é carnívoro nessa “onda de neo-populismo”?

MONTANER: Lula, Tabaré Vázquez e Néstor Kirchner, os vegetarianos, têm pouco a ver com Fidel Castro, Hugo Chávez e Evo Morales, os carnívoros. No Cone Sul, o Brasil incluído, tem-se uma visão equivocada do desenvolvimento, mas não devastadora. A senhora Bachelet, ainda que socialista, está mais próxima de Tony Blair que dos vegetarianos e dos carnívoros. No Chile, a classe dirigente alcançou o limiar da sensatez e não busca enfrentar o Primeiro Mundo, mas sim fazer parte dele. Já o eixo Castro-Chávez-Morales continua ancorado no discurso e nos esquemas da Guerra Fria, sonha com uma América Latina revolucionária, que expulse a economia de mercado e, a longo prazo, destrua o Primeiro Mundo. Seus colegas vegetarianos sabem que ele é um tipo perigoso e desagradável, mas toleram suas loucuras e seus discursos insuportáveis porque ele tem um talão de cheques polpudo. Kirchner conseguiu US$ 3 milhões em bônus com ele.

O senhor diz que “os revolucionários latino-americanos têm uma idéia cômica da elasticidade dos orçamentos e da capacidade arrecadadora do Estado”. Isso se aplica ao governo brasileiro?

MONTANER: Temo que o presidente Lula, ainda que se deva aplaudir sua moderação, siga sem entender como se cria a riqueza e como se pode gastar mal. Formado nas superstições da luta de classes, talvez não consiga entender que o que pode tirar da miséria metade dos brasileiros é um tecido empresarial exitoso e denso, capaz de gerar emprego. Lula deve ser avaliado não pelos acertos de seu governo, que são poucos, mas pelos erros que não cometeu. Mas essa é quase a definição de um político medíocre.

Nem na política externa o governo de Lula se salva da mediocridade que o senhor diz?

MONTANER: Há 12 anos a economia brasileira e a chinesa tinham o mesmo tamanho. Hoje a chinesa é três vezes maior. Enquanto Lula anda pelo mundo tentando formar um pólo de desenvolvimento com África do Sul, Índia e Rússia, países como Chile, China e Coréia do Sul tentam se associar aos mercados e a nações. Lula está preso à idéia absurda de que há rivalidade norte-sul, leste-oeste, centro-periferia. Não superou a segunda metade do século XX.
O Globo

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