Pesquisar este blog

domingo, 9 de julho de 2006

O Alívio do Apedeuta

  Semana passada, o presidente Luiz Inácio da Silva fez uma avaliação reservada com um interlocutor petista sobre a saída do governo dos ex-ministros José Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci (Fazenda): o nível de intriga no Palácio do Planalto diminuiu de forma significativa com a ausência dos dois. Lula foi além. Para ele, a redução do clima de tensão permanente que havia no núcleo do governo deve melhorar muito o ambiente de sua campanha pela reeleição.

Não foi a primeira vez que Lula fez uma avaliação desse tipo nos últimos dias. Em conversas informais, o presidente reconhece a importância dos dois ex-ministros. Mas diz acreditar hoje que a briga de poder travada entre Palocci e Dirceu poderia transformar sua campanha num inferno. Isso porque, antes da crise do mensalão, observou Lula, os dois já se envolviam numa disputa explícita pela sucessão presidencial em 2010.

Para o presidente, a queda-de-braço entre Dirceu e Palocci traria problemas para a campanha e criaria um clima de instabilidade na base governista. Segundo relato de Lula a um assessor próximo, a disputa entre Palocci e Dirceu já tinha ultrapassado todos os limites do aceitável. Lula percebia que os seus dois principais ministros já tinham iniciado um enfrentamento para demarcar território e influir no comando de sua gestão. Palocci e Dirceu, avalia Lula, dividiam o seu governo.

— O clima de intriga era enorme. Havia plantação de notícias na mídia. Era uma disputa de poder aberta. Isso prejudicava a harmonia no governo. O Planalto parecia um serpentário. Essa situação mudou muito — observa um ministro palaciano, que já foi alvo dos ataques de Dirceu e Palocci.

Apesar de sentir falta de Dirceu e Palocci, Lula acha que conseguiu superar a ausência dos dois e considera uma vantagem o clima menos conflituoso no Planalto. Com isso, ele acredita que fica com mais liberdade para comandar a campanha da sua reeleição. Até mesmo petistas com trânsito livre no Palácio do Planalto já perceberam essa mudança de ambiente.

— Hoje há uma consciência de que disputas internas não fortalecem o governo. Atualmente, existe uma postura de colaboração. O próprio Lula está mais leve — constata o presidente do PT e coordenador da campanha da reeleição, deputado Ricardo Berzoini (SP), que já foi ministro da Previdência e do Trabalho.

O ex-líder do governo e candidato ao governo de São Paulo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), reforça essa impressão:

— O clima no Planalto é de paz. A tensão diminuiu.

Segundo observação do presidente, Dirceu fazia um confronto mais explícito e cobrava de forma clara a lealdade de seus aliados. Já Palocci tinha uma estratégia dissimulada, mas era também ativo nos bastidores. O presidente sempre percebeu os conflitos internos mas não sabia como evitá-los, observa um parlamentar petista.

Hoje, apesar de reconhecer a eficiência dos dois ex-colaboradores, Lula acha que conseguiu superar a ausência deles e já considera uma vantagem o clima menos conflituoso no Planalto. Lula sabe que vai precisar da ajuda discreta dos dois ex-ministros na eleição. Ele reconhece que Dirceu ainda tem grande influência no PT, principalmente no Campo Majoritário do partido. Já Palocci ainda tem interlocução com setores do empresariado e do mercado financeiro, o que é fundamental para o governo.

Mas Lula já avisou que manterá uma distância regulamentar dos dois. Na semana passada, o presidente teria ficado irritado com a notícia de que Dirceu usou o seu nome em contatos que fez durante viagem para La Paz, na Bolívia. Lula ainda teme que ações como a de José Dirceu possam prejudicá-lo. Dirceu teria viajado para a capital boliviana com o objetivo de defender interesses da siderúrgica MMX, de Eike Batista, junto ao governo de Evo Morales. Ele se limitou a dizer que a viagem foi em decorrência de atividades profissionais.
(veja também:Dirceu ajudou a "nacionalização" do Índio Morales)

Nenhum comentário: