Pesquisar este blog

quinta-feira, 6 de julho de 2006

LIBERDADE DE IMPRENSA E PT

por Maria Barbosa, socióloga
Depois das tentativas de censura explícita do governo do PT, através dos malogrados Conselho Nacional de Jornalismo e Ancinav, vale ainda perguntar até onde vai a liberdade de imprensa. A indagação se torna pertinente quando se observa que certos assuntos desaparecem rapidamente da mídia, caindo sobre eles pesado silêncio caso não traduzam as boas notícias que foram solicitadas pelo então ministro Gushiken.

Entre tantos temas inconvenientes pode ser citado, por exemplo, o desaparecimento no Iraque de um engenheiro brasileiro. É de se supor que tenha sido morto pelos degoladores que já decapitaram vários estrangeiros. Mas nada foi esclarecido e mais uma vez o Itamaraty fracassou em sua função. Como o corpo não apareceu, melhor sepultar o assunto.

E alguém sabe o que se passa no Haiti? Nessa outra equivocada ação de nossa política externa, que se prestou a obsessão do governo petista de conseguir um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, por sinal não obtido, perdeu a vida o general brasileiro que comandava não só nosso contingente militar como os estrangeiros, em nome da ONU. Rapidamente a morte foi atribuída a suicídio e nada mais foi dito.

Suicídios, aliás, têm sido freqüentes. Outro general (este sem nada a ver como o Haiti) suicidou em Belo Horizonte, segundo uma pequena nota dada em jornal. E mais um prefeito do PT morreu, despencando do 23º andar de um prédio, em São Paulo. Suicídio é claro, apesar de ter sido rapidamente ventilado que ele estava entre os que não davam boas notícias do ex-ministro Antonio Palocci por conta de (como é de praxe dizer) supostos envolvimentos deste em falcatruas dos tempos de prefeito de Ribeirão Preto. Dentro da temática do suicídio só faltou noticiar que Celso Daniel suicidou através de tortura. Também o legista, que estava preste a provar que o prefeito do PT fora torturado, suicidou. E quem sabe se concluirá que Toninho do PT matou-se com dez tiros nas costas.

Rapidamente as CPIs desapareceram no horizonte das suspeitas. Exceto três deputados, os demais mensaleiros foram de forma magnânima perdoados e não se fala mais no assunto. O PT e seu presidente da República foram também generosos com relação aos “pecadilhos” dos companheiros e Luizinhos e João Paulos, Genoinos e Paloccis poderão voltar em grande estilo montados em mandatos de deputado federal. A grande maioria esqueceu ou está de acordo com a corrupção e só aquele que foi chamado de chefe da quadrilha, o ex-poderosíssimo José Dirceu, não concorrerá novamente a deputado federal porque, coitado, foi vítima da incompreensão de seus pares, perdendo seus direitos políticos ao sofrer o impeachment. Mas continua ativo, trabalhando na campanha do chefe Lula e certamente retornará às delícias e farturas da corte se houver o segundo mandato.

Sem más notícias a vida se torna mais agradável. Aquele pífio 2,3% de crescimento do ano passado não empanou o brilho do maior governo que o Brasil já teve e que segue galvanizando a opinião pública. Piadas, deslizes lingüísticos e de outros teores, a impressionante dinâmica das inaugurações do que há e do que não há podem garantir a reeleição. E quando uma pesquisa do Banco Mundial aponta para nosso sexto lugar em consumo familiar num grupo de dez países da América Latina, e o segundo mais caro de se viver na região, isso passa desapercebido porque não é boa notícia. Nada sobre esse assunto desagradável vai aparecer, especialmente, na TV. Temos preços elevados e boa parte da população não consegue consumir porque nosso padrão de distribuição de renda é ruim. Nossos juros estão entre os mais altos do mundo e os impostos nunca estiveram tão escorchantes. Mas o que interessa é a escalação do Parreira.

A última notícia não muito boa foi a saída do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. Cumpriu-se com ele, mais uma vez, a lei do petismo: quem ajudar o PT pagará caro por tal ajuda. De todo modo, a queda do ministro ilustra a crise do agronegócio. Podem comemorar João Pedro Stédile e Bruno Maranhão. Quem sabe um dos dois será o ministro da Agricultura num eventual segundo mandato de Luiz Inácio. Seria uma ótima notícia.

Bombas de efeito retardado na economia estão sendo armadas pelo governo por conta das bondades de campanha. Venezuela, Bolívia, Argentina vão se unindo e passando o Brasil para trás, enquanto o Paraguai também acusa o Brasil de imperialista e o Uruguai se ressente por ter sido diminuído no Mercosul pela nossa brilhante política externa. Mas por aqui ainda cremos que o presidente é o senhor do mundo.

O presidente espera vencer ou vencer. Para tanto colaboram as boas notícias que norteiam a “liberdade de imprensa” do PT. Num possível segundo mandato essa “liberdade” poderá ser aperfeiçoada.

Nenhum comentário: