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domingo, 6 de agosto de 2006

Cuba não exporta mais revoluções.


Parecia aproximar-se, no fim da semana passada, aquilo que os cubanos chamam de “el acto biologico”. A poucos dias de completar 80 anos, Fidel Castro, presidente, ditador sanguinolento de Cuba, encontrava-se hospitalizado, depois de submeter-se a uma cirurgia para estancar um sangramento intestinal. Seu estado de saúde era desconhecido. O manto de sigilo estendido pelo governo comunista tornou-se impenetrável. Em Miami, os inimigos de Fidel na comunidade de 600 mil exilados cubanos antegozavam sua morte, com marchas e carreatas. Em Havana, silêncio e expectativa. Fidel domina a vida do país e mesmeriza seus 11 milhões de habitantes há 47 anos. A morte desse dinossauro, que colocou sua pequena ilha no mapa, desafiou dez presidentes americanos, sobreviveu à queda do Muro de Berlim e gaba-se de ter escapado a 600 atentados, seria um evento cataclísmico, como um furacão do Caribe. Depois de Fidel, Cuba não será a mesma. E poucos são capazes de dizer como será.
A palavra-chave nesses dias é transição. O presidente George Bush criou um comitê e deu-lhe U$ 80 milhões para organizar a passagem cubana em direção à democracia e ao capitalismo. O objetivo dos americanos é impedir uma sucessão dinástica que ponha no poder o irmão mais novo de Fidel, Raúl Castro, de 75 anos. Comandante das Forças Armadas, Raúl recebeu todos os poderes de Fidel no momento em que o irmão foi hospitalizado. Para os exilados cubanos, a transição significa um levante interno contra o regime, apoiado a 150 quilômetros de distância pelo dinheiro de Miami. Além de rancor, esse grupo tem recursos e experiência empresarial que poderiam mexer fundo no PIB da ilha, de apenas US$ 15 bilhões. Mas para isso é preciso combinar com os cubanos de Cuba, dois terços dos quais nasceram depois da revolução socialista. Mas Miami tem pressa. Já “prepara os barcos” para uma reentrada triunfal na ilha depois da morte de Fidel. “Serão recebido à bala”, opina o escritor Fernando Morais, amigo de Fidel. “O socialismo não vai derreter de uma hora para outra.” Alguns apostam que terá início agora um período complicado, durante o qual Raúl Castro tentará construir um modelo híbrido, semelhante ao chinês.


Já existe alguma base material para um possível socialismo de mercado em Cuba. Empresas multinacionais como a canadense Sherrit Power, que detém 23% da companhia cubana que ilumina o norte de Havana, são fundamentais no dia-a-dia da economia. Elas operam em regime de joint-venture, sob controle de Raúl Castro, que nomeia militares para presidi-las. As telecomunicações têm como sócia a italiana Stet. A fabricação de charutos Habanos é feita em parceria com a européia Altatis. Mesmo a Petrobras já está prospectando nas águas do Golfo do México, valendo-se de acordos firmados entre Brasil e Cuba. Desde 2003, quando o PT assumiu o governo, o BNDES passou a liberar créditos que são usados na compra de equipamentos e produtos brasileiros. Votorantim e Marcopolo se beneficiaram dessa linha, que liberou US$ 30 milhões em 2004. “O Brasil deve ficar atento às oportunidades com uma abertura de Cuba”, diz Carlos Cavalcanti, diretor da Fiesp.

No país do beisebol, o taco agora está com Raúl Castro. Os exilados em Miami o chamam de sangüinário, pelo controle que exerce sobre Exército e polícia. Foi ele quem pediu os mísseis russos que desencadearam a crise com os Estados Unidos em 1961. Por outro lado, ele defendeu o filme Morango e Chocolate, que censores cubanos queriam proibir por apologia ao homossexualismo. Cuba não exporta mais revoluções.

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