Pesquisar este blog

sexta-feira, 11 de agosto de 2006

POBRE CLASSE MÉDIA

Maria Lucia Victor Barbosa

Já se disse que a leitura de jornal devia ser a oração da manhã do homem moderno. Nesse sentido nos falta modernidade, pois jornais não são muito lidos no País. Somos o povo da televisão. E se a TV nos proporciona entretenimento, a informação transmitida por esse veículo é superficial apesar de ser em grande volume e, em muitos casos, simultânea aos acontecimentos.

Quem "ora" pela manhã sabe que aquilo que a TV não conta, o jornal diz. Sobretudo os maiores e melhores são informativos em profundidade. Isto se confirma se observarmos que jornais televisivos têm, de modo geral, mostrado apenas um Brasil paradisíaco.

Entre os vários indicadores de nossa prosperidade por TV estão, por exemplo, o aumento de investimentos estrangeiros e do emprego formal. Entretanto, não é mencionado que "os investimentos diretos estrangeiros, que em 2000 foram de US$ 32,8 bilhões, caíram em 2005 para US$ 15,1 bilhões", ou que deixamos a desejar na "proporção de estudantes universitários na taxa de crescimento e na participação das exportações no PIB". (Folha de S. Paulo, 31/07/2006).

Outro dado preocupante que a TV não mostra se refere ao ritmo das demissões maior que o das contratações entre os mais escolarizados. Desse modo, se o atual governo se ufana da criação de 4,3 milhões de empregos formais (havia prometido 10 milhões), muitos dos quais ideológicos e estatais, a qualidade da mão-de-obra vem piorando.

Conforme Sergio Vale, "certamente não se pode reclamar da contratação de pessoas com baixo nível escolar" (o economista se referiu a criação de empregos para analfabetos e para os que têm até a 4ª série do ensino fundamental completo), mas em vez de aumentar a média do emprego e da renda para todos, estamos nivelando por baixo. Todos os países do mundo cresceram com trabalho qualificado e uma classe média relevante. Estamos no caminho oposto" (Folha de S. Paulo 30/07/2006).

Na verdade, a classe média vem sendo tremendamente penalizada e empobrecida. Estamos numa conjuntura em que o esforço e o sacrifício de pais para que os filhos concluam o curso superior freqüentemente se frustra depois da festa de formatura. Ao mesmo tempo, se exige cada vez mais qualificações para a obtenção de uma vaga, enquanto se remunera menos. As exigências vão do título de mestrado ou doutorado ao domínio de línguas e de informática, de especialidades e tecnicalidades a um longo tempo de experiência. Em contrapartida são oferecidos salários que, na maior parte, variam de quatrocentos a mil reais.

Infelizmente, muitos empresários não acham necessário treinar mão-de-obra. Além do mais, certos conhecimentos exigidos são completamente desnecessários a determinadas funções. Por conta disso muitas vezes o profissional liberal ou parte para a informalidade, ou se submete a trabalhar em algo aquém de sua formação, pelo mesmo salário de um analfabeto. Isto desestimula a busca por educação que, por sinal, chegou a um nível assustadoramente baixo. Na prática se sabe que valem mais os relacionamentos do que o diploma. Daí a pergunta: se no Brasil passamos longe do mérito, da excelência em educação que habilita realmente a mão-de-obra altamente qualificada, como poderemos competir no mundo globalizado?

Perplexos, os indivíduos da classe média percebem que enquanto gastaram anos em estudos, amargam o desemprego, as demissões, os baixos salários, os pesados impostos por eles pagos só servem para sustentar o luxo da "corte". E na degradação moral em que se vive são mensaleiros e sanguessugas que se dão bem, enquanto facções criminosas enriquecem cada vez mais e Waldomiros, Marcos Valérios e companhia seguem sem medo de serem felizes.

Por conta de tudo isso e muito mais o voto da pobre classe média, ainda que bastante desinformada, deverá se refletir nas urnas em outubro. Imagine-se, então, se jornais fossem mais lidos
.

Um comentário:

Serjão disse...

Fica até difícil comentar tantas foram as abordagens que vc deu. E todas com razão de ser. Com relação aos meios de informação eu vejo pelo lado econômico. Quando eu era criança minha mão comprava dois jornais por dia. E meu pai ainda trazia outro à noite. Hoje eu leio um e às vezes. Claro que há muito mais informação disponível. Internet, TV a cabo etc... Mas acho que no fundo o Brasileiro gosta de se informar e de ler seu jornalzinho. O problema é que não pode comprar. Não sei se isso é causa ou consequencia da não politização do povo brasileiro.
Quanto ao mercado de trabalho é exatamente o que vc disse. As exigencias se tornam cada vez maiores no contexto onde a procura é maior do que a oferta. E vc vê absurdos privilègios no setor´público que faz com que os brasileiros se dividam em os que são Func Públicos e os que gostariam de ser. O problema é que para sustentar esta máquina que teve conquistas empregatícias absurdas na const de 88 vc precisa arrochar uma parcela da sociedade que produz e gera emprego, E como fazer isso se estão arrochadas?
Belo Post.
Um abração.