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sexta-feira, 8 de setembro de 2006

Por que o brasileiro vota na esquerda

Se no Brasil ocorre esse fenômeno aberrante de um eleitorado conservador votar maciçamente em candidatos de esquerda, o motivo da contradição aparente é claríssimo e se compõe da confluência de três fatores. Desde logo, o conservadorismo não tem canais partidários ou culturais de expressão e se tornou politicamente nulo. Não há políticos conservadores: ninguém pode votar em candidatos inexistentes. De outro lado, o esquerdismo usa uma linguagem nas suas discussões internas, outra para falar com o povo, e só na primeira delas assume sua verdadeira identidade ideológica. Na outra ele dilui sua imagem em generalidades moralistas, nacionalistas e populistas. É um discurso maliciosamente escorregadio, que evita o jargão marxista e impede o povo de identificar a esquerda brasileira com a revolução neocomunista continental. Até observadores estrangeiros qualificados, mas que desconhecem os documentos internos do PT e do Foro de São Paulo, como por exemplo Álvaro Vargas Llosa, Otto Reich e o próprio subsecretário Tom Shannon, se deixaram enganar por essa falsa aparência, imaginando o esquerdismo brasileiro como populista em vez de comunista. A população local, é claro, cai no engodo ainda mais facilmente. Mesmo entre pessoas letradas é comum a reação: "Lula, comunista? Você está doido". O próprio Lula pôde dizer, sem que ninguém o contestasse, que não apenas nunca foi comunista como não é nem mesmo esquerdista. Essa declaração seria considerada cínica, inaceitável e até criminosa se a platéia não ignorasse que o declarante foi fundador e presidente da maior organização pró-comunista do continente. Em terceiro lugar, o sucesso de 40 anos de "revolução cultural" gramsciana foi tão avassalador - dada a completa falta de resistência -, que os valores, critérios e até cacoetes mentais do movimento comunista internacional se incorporaram no "senso comum" brasileiro e já não são reconhecidos como tais: são aceitos passivamente pela sociedade, sem consciência de suas implicações ideológicas. Somem esses três fatores e compreenderão por que um povo conservador vota em candidatos comunistas: ele não sabe que são comunistas, não sabe que há um movimento comunista ativíssimo no continente e não tem a menor idéia das conseqüências do seu voto. As eleições brasileiras são uma farsa no sentido mais exato e integral do termo. Não havendo partidos ou políticos de direita no Brasil, toda a confrontação direita-esquerda que se vê atualmente é uma obra de engenharia social criada pela própria esquerda com três objetivos: (1) ocultar sua hegemonia e seu poder monopolístico sob uma aparência de disputa democrática normal; (2) neutralizar quaisquer tendências direitistas, canalizando-as para uma direita pré-fabricada, a "direita da esquerda", o que se observou muito claramente nas duas campanhas eleitorais de Fernando Henrique Cardoso, um marxista gramsciano que foi alegremente aceito como depositário (infiel, é óbvio) da confiança do eleitorado direitista; (3) dominar todo o espaço político por meio do jogo de duas correntes partidárias fiéis ao mesmo esquema ideológico, só separadas pela disputa de cargos, como aliás o reconheceram explicitamente o próprio Fernando Henrique e o professor Cristovam Buarque, então um dos mentores do PT. Essas três linhas de ação definem exatamente o que Lênin chamava "estratégia das tesouras", termo inspirado na idéia de cortar com duas lâminas. O PFL poderia ser um partido de direita, mas, como só quer cargos e não tem nenhuma perspectiva de poder, consentiu em tornar-se uma filial do PSDB. O PMDB é esquerdista desde a origem e está repleto de comunistas. O PSDB, a "direita da esquerda", é a boca de funil para onde converge o que possa restar de direitismo hipotético nesses outros partidos. Tal como o PT, esse partido nasceu na USP, e sua única função no conjunto da estratégia comunista uspiana é impedir que os descontentes com o PT acabem se aglutinando numa direita genuína.
Olavo de Carvalho

2 comentários:

Anônimo disse...

Puxa! Que análise bem elaborada! Não é que eu me vi nesse engodo?
Obrigada, Kozel, por postar esse texto do Olavo de Carvalho...Foi muito elucidativo. Consegui desatar o nó desse embrulho...
Quero deixar registrado aqui que muito tenho apendido lendo o seu blog. Grata!

Ciça

Anônimo disse...

Kozel,pena que somos poucos privilegiados qeu temos a chance
de ler um artigo desse.Tambem tenho
aprendido com os seus comentários.
Bom dia, que DEUS te abençoe!
TIAGILA.