TSE levará em conta escutas ilegais quando julgar os envolvidos no Dossiegate e a impugnação da candidatura Lula da Silva

A escuta ilegal nos telefones dos ministros do Tribunal Superior Eleitoral, que foi considerada uma afronta ao Judiciário, é a verdadeira similaridade entre o escândalo Watergate (que, em 1974, derrubou o presidente reeleito Richard Nixon, nos EUA) e o Lulagate, PTgate ou Dossiêgate – como vem sendo chamado o caso da produção de um dossiê contra José Serra, envolvendo o ex-ministro as Saúde de FHC e candidato tucano ao governo paulista com a máfia dos sanguessugas. Tal recado, indicando que o TSE deve endurecer no julgamento da investigação de crime eleitoral praticada pelo PT, foi dado ontem, de maneira velada, pelo presidente do TSE.Referindo-se ao escândalo Watergate (que foi uma tentativa de grampo telefônico feita pelos republicanos do governo norte-americano contra um escritório do Partido Democrata), Marco Aurélio de Mello emitiu seu conceito sobre o caso do dossiê, que será julgado pela Corregedoria Eleitoral TSE: “Este caso é muito pior". Marco Aurélio se disse perplexo com a quantidade de escândalos que rondam a disputa eleitoral, especialmente o caso do "dossiê" Serra. Marco Aurélio já antecipou que o caso não deve ser julgado antes do primeiro turno. Mas o ministro já advertiu que, se for declarado inelegível, o presidente Lula da Silva pode ser punido mesmo depois de reeleito (se for o caso). Lula seria acionado pelo Ministério Público, que pediria a cassação de sua candidatura.Nos bastidores do TSE, comenta-se que o caso do grampo telefônico dos ministros tem tudo para pesar no julgamento do caso do dossiê. Novas revelações sobre o caso podem surgir a qualquer momento. O TSE já sabe quem comandou os grampos, e a serviço de quem. No Brasil, existem poucos grupos com equipamento de última geração para executar uma escuta tão sofisticada quanto a praticada contra os ministros do TSE. O caso pode respingar em aliados do governo que já estão sendo investigados pela prática de crime de escuta telefônica ilegal.Além do comportamento dos ministros do TSE, outra menção ao caso Watergate, feita ontem pelo jornal O Globo, é um sinal de que está criada uma “tese” para um pedido de impedimento de Lula, no curto prazo. O jornal da família Marinho comentou: “Um grupo político, que reúne assessores diretos do presidente da República e membros de seu partido no comitê de reeleição, age ilegalmente para espionar adversários e obter provas contra eles. Trata-se do escândalo do PT de Lula ou do Watergate, que derrubou Nixon nos EUA? Dos dois”.O presidente do TSE, ontem, seguiu essa mesma linha de raciocínio. E o noticiário da Rede Globo, até então aparentemente neutro em relação ao governo, assumiu sinais objetivos de oposição. Novas revelações sobre o escândalo surgirão logo mais, com o depoimento do empresário Luiz Antônio Vedoin, dono da empresa Planam (acusada de coordenar o esquema mafioso dos sanguesugas) à Polícia Federal, em Cuiabá.