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sábado, 2 de setembro de 2006

Um grande eleitor

Otavio Frias Filho tem sido um grande eleitor no Brasil. Lembro do seu memorável engajamento para derrubar Collor. Certo que o ex-presidente mandou a Polícia Federal bater à sua porta com mandato, executado de maneira autoritária, daí talvez o ódio e a energia devotada na empreitada de empichá-lo. Evidente que os escândalos do governo Lula não o comoveram na mesma proporção, não obstante serem de uma escala colossal, muito além de Collor e seus amadores alagoanos. PC Farias seria um mero trombadinha perto da dupla Delúbio Soares e Marcos Valério. Não vi editoriais de primeira página exigindo a apuração dos fatos, não vi a responsabilização da pessoa do presidente no jornal que dirige como o fez nos tempos de Collor. E os jornalistas empregados seus continuam a fazer livremente a apologia de Lula e sua gente.
Lembro desses fatos para comentar seu artigo publicado na Folha de São Paulo de hoje (01/09) (“Picolé de direita”). Parece um elogio a Alckmin, mas é o seu oposto. Parece uma crítica a Lula, mas é o seu oposto. Mais que tudo, é a bênção do Grupo Folha ao governo lulista, uma aprovação sem medidas ao medíocre exercício de poder que tem feito Sua Excelência. Vejamos suas palavras:
“O mais provável é que o amplo favoritismo de Lula se deva mesmo a um panorama econômico entre razoável e bom, somado ao pacote de bondades eleitorais que seu governo, conforme a praxe reeleitoral, vem desovando nos últimos meses”.
A boa imagem de Lula nada tem a ver com a realidade. O fato é que a economia cresce insatisfatoriamente, a carga tributária jamais foi tão grande e a mediação do Estado na economia nunca foi tão forte. Empreender nesse país tornou-se uma maldição. Não comungo da tese de que a economia vai bem, exceto pela feliz circunstância de estarmos a viver um apogeu de um ciclo internacional de expansão global da economia, que reduziu a pressão cambial. De resto o desemprego e as incertezas continuam a ser o panorama árduo dos brasileiros que carregam o peso do trabalho nas costas.
Bondades aqui deveriam ser referidas como maldades. Talvez Frias tivesse em mente ao citá-las a elevação recente do salário mínimo, que deverá levar as contas públicas a uma situação de desequilíbrio como há muito não víamos. Uma maldade e um oportunismo eleitoral que deveriam ser objeto da crítica ácida do analista neutro e não objeto de louvor do apologeta engajado. Talvez pensasse nas muitas bolsas disso e daquilo que distribuem a rodo nos últimos meses. Ora, isso não passa de uma forma oficial de distribuição de dinheiro aos miseráveis, em troca dos votos, prática no Brasil tão antiga quanto nosso sistema eleitoral. Antes pelo menos era feita de forma privada, sem carimbo oficial, ao arrepio do ordenamento jurídico. Retroagimos aos tempos da República Velha e em termos piorados. Frias não tem uma palavra em reparo a essa farsa grotesca que vai reeleger o ator medíocre que é o personagem Lula.
“A experiência internacional mostra também que reeleição de presidente no cargo é a regra, não a exceção. Neste momento em que Lula volta a acumular muito poder, é saudável que conheça limites, seja interpelado e submetido à crítica. Para que depois não se venha reclamar, mais uma vez, de estelionato eleitoral”.
Cadê a crítica de Frias a Lula? Não é ele afinal o jornalista editor? Porta-se como um fariseu hipócrita. Ignora que a experiência internacional e nacional também registra que governantes corruptos e populistas são corridos impiedosamente do poder. Frias como que abençoou o que o nosso procurador-geral qualificou de quadrilha criminosa como bons governantes. Frias tornou-se o grande eleitor de Lula, puxando votos nas camadas que lêem seus jornais, a elite paulista, exatamente onde o lulismo não tem penetração maior.
Frias ignora também que o PT não é um partido normal, que se submeta comodamente à alternância democrática de poder. Nós estamos diante de um partido revolucionário disposto a ir às últimas conseqüências. Seu artigo simplesmente ignora essa realidade e passa um atestado de boas intenções para o segundo mandato. E o faz duplamente, ao dizer que a reeleição é fato esperado e “normal” e ao não fazer qualquer tipo de prognóstico sobre a ação governamental do novo período de governo que se abrirá.
O Brasil e os brasileiros estão órfãos de bons analistas na grande imprensa. A unanimidade da mídia em favor da situação, tão bem expressa no artigo de Frias, é que está fazendo a diferença em favor de Lula. Alckmin vai perder porque a mídia não denuncia a corrupção e não a liga a Lula. Porque a mídia cala e ao calar induz os desavisados a sufragar a “quadrilha criminosa”. Enganam os brasileiros. Até a compra de votos deixou de sê-lo para tornar-se uma virtude, uma suposta bondade.
Proclamo que está havendo no Brasil um estelionato eleitoral, sim, tendo gente como ele como avalistas. A história cobrará de homens como Otávio Frias Filho a responsabilidade pelos acontecimentos que se sucederão. Quem viver verá!


por José Nivaldo Cordeiro em 02 de setembro de 2006-Mídia sem máscara

Um comentário:

Anônimo disse...

Concordo com o J. N. Cordeiro.
Mas não há de ser nada porque,apesar dos pesares, O APEDEUTA NÃO VAI SER REELEITO!

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