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domingo, 8 de outubro de 2006

E os programas econômicos?

No estilo rasteiro que se tornou marca de seu partido, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, abriu o debate econômico do segundo turno. Poderia ter dado uma contribuição importante, já que os candidatos pouco falaram sobre seus programas na fase anterior da campanha. Mas perdeu a oportunidade. Limitou-se a dizer que não haverá nova reforma da Previdência, no caso da reeleição, e lançou uma dúvida sobre o ajuste fiscal prometido pelo candidato Geraldo Alckmin: 'Ele vai cortar o quê? Os programas sociais?'

Com essa provocação, mais digna de um militante arruaceiro do que de um 'quadro' partidário, o ministro ampliou as dúvidas sobre os planos do presidente-candidato. Respeitados economistas do governo sustentam haver um problema financeiro na Previdência e defendem uma nova reforma. O professor Mantega nega o problema ou aposta numa solução diferente da reforma? Qual? Ou será que só descarta a idéia de uma nova reforma por saber que é um tema impopular?

E, além disso, o que quis dizer, ao insinuar que o candidato da oposição pretende cortar gastos sociais para executar um ajuste fiscal rígido? Não haveria alternativa, em sua opinião? Nesse caso, não haverá um ajuste para valer, se o presidente Lula for reeleito? Ou a insinuação é gratuita e não passa de uma amostra do baixo nível que pretende imprimir à campanha.

Enquanto isso, os eleitores continuam sem saber como os candidatos pretendem atacar os principais problemas econômicos. O candidato Geraldo Alckmin tem evitado a questão da Previdência, embora os mais conhecidos economistas de seu partido alertem para o risco de um déficit crescente.

E nenhum dos dois candidatos abordou em público, de forma clara, os demais aspectos do problema fiscal. O candidato Alckmin não foi forçado a isso, embora tenha comparecido aos debates. O presidente Lula nem sequer compareceu e ficou limitado ao discurso fácil.

Também em relação a essa questão o ministro da Fazenda agiu como porta-voz informal de seu chefe, prometendo austeridade fiscal nos próximos anos. Mas não detalhou essa promessa, nem explicou por que se pode confiar nesse compromisso. Aliás, o tema principal dos seus ataques - e dos de seu chefe - a Alckmin é a sua (má) intenção de manter essa austeridade.

A expansão do investimento público, uma promessa dos dois candidatos, só será possível com a contenção de outros gastos. Como cuidar desses outros gastos? Geraldo Alckmin chegou a mencionar as compras eletrônicas, já adotadas no governo paulista, como forma de economizar. É uma idéia excelente e já descoberta pela administração federal, mas não é com isso que se irá inverter a tendência de crescimento dos já enormes gastos de custeio. O presidente Lula nem sequer ensaiou discutir o assunto. Mas da solução do nó orçamentário depende a redução da insuportável carga de impostos, hoje o maior obstáculo ao crescimento econômico e à criação de empregos.

Também não se falou o suficiente sobre a autonomia do Banco Central, em discussão há anos, nem sobre o futuro das agências reguladoras, tema importante para o investidor em serviços de utilidade pública. O governo foi incapaz, nos últimos anos, de ampliar os investimentos na infra-estrutura e isso resultou, em boa parte, de sua indefinição sobre os papéis do setor público e do setor privado. A interrupção das privatizações e concessões foi uma conseqüência do debate ideológico no interior do governo. Lula evitou esclarecer esse ponto, e Geraldo Alckmin não soube ou não quis mover-se nessa área.

Tampouco se discutiram as políticas agrícola e agrária, um dos setores de pior desempenho do atual governo. A questão é politicamente delicada e talvez por isso o candidato da oposição também a tenha evitado. Ambos devem ao eleitor uma definição sobre as invasões de terras e sobre como será tratada a produção agrícola. Em qualquer programa respeitável seria preciso incluir as linhas gerais da diplomacia comercial e econômica, especialmente depois de quatro anos de fracassos. Nenhum dos candidatos enfrentou esse tema.

Ambos têm, portanto, uma rica agenda de esclarecimentos devidos ao público, nesta segunda fase da campanha. Infelizmente, tudo indica que essa agenda não será cumprida.

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