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domingo, 19 de novembro de 2006

Um jovem desaforado


Juscelino Kubitschek mal iniciava seu governo quando começaram os protestos da União Nacional dos Estudantes, estrategicamente situada bem perto do Palácio do Catete, no Rio. Protestavam contra tudo, do aumento do preço dos bondes à presença de Roberto Campos no BNDE. Certa feita ocuparam os jardins da sede do governo, exigindo a presença do presidente. Eram mais de mil, mas JK desceu, ouvindo saraivadas de impropérios, em discursos que se superavam em agressões de corpo presente. Um dos oradores mais inflamados chamou de entreguista a política econômica do presidente e insurgiu-se contra a indústria automobilística estrangeira. Quando terminou, Juscelino quis saber seu nome. Ele disse, e o presidente retrucou: “Você é filho do José Pertence, de Belo Horizonte? Mas você é desaforado, meu filho...”

O tempo passou e o desaforado Sepúlveda Pertence tornou-se ministro do Supremo Tribunal Federal, agora cotado para ministro da Justiça do segundo governo Lula. Só para completar a história: Juscelino convidou a direção da UNE a ir a seu gabinete e, em dado momento das discussões, levantou-se, pegou no braço de um dos mais exaltados e fê-lo sentar-se na cadeira presidencial: “Agora me conte, o que você faria se tivesse que tomar minhas decisões?”

O encontro terminou com a promessa do presidente de comparecer à sede da UNE para uma palestra sobre as metas de seu governo. Mais de dois mil jovens o esperavam. Antes mesmo de descer do carro, levou monumental vaia que não se interrompeu quando entrou no prédio, subiu as escadarias e postou-se no mais do que lotado auditório. Ficou em pé e, de vez em quando, consultava o relógio. Quando as vaias cessaram, como tudo na vida, olhou pela última vez as horas e disse: “Bendito o país em que os seus estudantes podem vaiar por cinco minutos seu presidente, sabendo que nada vai acontecer”. Seguiram-se seis minutos de aplausos. Um dos mais entusiasmados era o filho do José Pertence.

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