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domingo, 3 de dezembro de 2006

Caixa 2 da campanha Apedeuta é a origem do $ do Dossiê

Já está pronto o roteiro do que será o relatório final da CPI das Sanguessugas. O documento irá anotar que o dinheiro amealhado por petistas para comprar o dossiê antitucano (R$ 1,7 milhão) veio do caixa dois do comitê eleitoral de Lula. A conclusão foi extraída de dados recolhidos do inquérito da Polícia Federal e de depoimentos dos petistas que Lula chamou de “aloprados”.

Coube ao deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) redigir o capítulo relativo ao dossiêgate. A idéia é que o texto seja incorporado ao relatório geral, sob a responsabilidade do senador Amir Lando (PMDB-RO). Gabeira evita falar em público a respeito da linha que irá adotar. O blog ouviu, porém, pessoas que assessoram o deputado e colegas com os quais Gabeira compartilhou os seus pontos de vista.

O que Gabeira diz, em reserva, é que chegou à “convicção” do envolvimento do comitê de Lula pelas “evidências” produzidas durante a investigação. O juízo formado pelo deputado é diferente da linha adotada pela Polícia Federal. A PF também caminha para concluir que o dinheiro do dossiê proveio de caixa dois eleitoral. Mas aponta não para o comitê de campanha de Lula, mas para o do petista Aloizio Mercadante, candidato derrotado ao governo de São Paulo.

A exemplo da PF, o senador Amir Lando diz, entre quatro paredes, que pende para o comitê paulista. Gabeira não exclui a hipótese de atribuir responsabilidades compartilhadas aos dois comitês –o paulista e o nacional. Mas sustenta que as evidências mais contundentes apontam para o birô de campanha de Lula.

O texto do deputado dirá claramente, no entanto, que não há em toda a investigação nenhum elemento que o autorize a dizer que o presidente reeleito soube ou participou da encrenca. O mesmo se dá com o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), que, à época em que os fatos ocorreram, presidia o PT e coordenava a campanha de Lula.

De acordo com o roteiro fixado por Gabeira, o relatório fará menção a Berzoini nos trechos em que os fatos serão historiados. As pessoas que lerem o relatório podem até intuir que é implausível a versão de que Berzoini desconhecia a tramóia do dossiê, como alega. De acordo com a CPI, ele inclusive já atuara na área de “inteligência” do comitê de Lula na eleição de 2002. Em 2006, de novo, foi o responsável direto pelo recrutamento de todos os “aloprados”. Trocou com eles um sem-número de telefonemas.

Objetivamente, porém, pelos dados de que dispõe até o momento, Gabeira alega não ter contra Berzoini senão um conjunto de indícios. Não se sente respaldado em provas para acusar o colega da prática de delitos. As evidências recolhidas até aqui só autorizam a CPI a responsabilizar Jorge Lorenzetti, ex-chefe do birô de “inteligência” do comitê de Lula, pelo planejamento da ação que resultou no escândalo do dossiê. Aos demais “aloprados” será atribuída a execução do plano.

Quanto à tipificação dos crimes, a assessoria da CPI busca nos compêndios jurídicos as leis e os artigos que servirão de base para solicitar ao ministério público o indiciamento dos “aloprados”. Eles serão enquadrados em três tipos de malfeitorias: além do delito eleitoral, fraude contra o sistema financeiro (compra de dólares por meio de laranjas) e manuseio de dinheiro da contravenção (jogo do bicho).

Quanto à parte financeira, os mais implicados, por ora, são Gedimar Passos e Valdebran Padilha. Vinculados ao comitê de Lula, os dois foram presos em 15 de setembro com R$ 1,7 milhão de má origem. Além deles, também Hamilton Lacerda, será mencionado no relatório da CPI como o homem da mala. Embora negue, Lacerda foi pilhado pelas câmeras do circuito interno do Hotel Íbis, em São Paulo, no instante em que transportou em duas malas o dinheiro apreendido pela PF.

Gabeira e a equipe de técnicos que o auxilia trabalham com a perspectiva de prorrogação da CPI até janeiro de 2007. A hipótese, conforme noticiado aqui no blog, tornou-se real na semana passada. Para não correr riscos, porém, o deputado contempla também a alternativa de ter de fechar o relatório até 15 de dezembro. Daí a pressa. Na próxima quarta-feira, Gabeira se reúne com o delegado Diógenes Curado, que preside o inquérito da PF. Quer saber se há nas investigações novidades ainda desconhecidas da CPI.

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