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sábado, 13 de janeiro de 2007

A ameaça


O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, há mais de seis anos no poder, ameaça a estabilidade da América Latina com o financiamento e o apoio a grupos radicais de países vizinhos, a formação de uma milícia civil, o uso do petróleo para chantagear as repúblicas da América Central, a compra de armas e a aliança com a ditadura cubana de Fidel Castro, de quem está se tornando um clone malfeito e extemporâneo. Na Venezuela, Chávez adotou um governo centralizador, mudou as leis para controlar melhor a oposição e aumentou o tamanho do Estado, levando à derrocada de uma das mais antigas democracias da região. Resultado: a população ficou mais pobre, os investidores externos sumiram e a dívida pública aumentou.


O que aconteceu depois

Chávez intensificou ações e bravatas, buscando assumir o papel de principal antípoda dos Estados Unidos. Assim, calculou, poderia angariar simpatia dos países pobres e em desenvolvimento. Nesse sentido, ele anunciou, por exemplo, a intenção de desenvolver um programa nuclear com apoio técnico do Irã — nação que mantém a comunidade internacional em alerta devido às evidências de que os aiatolás iranianos desejam armar um arsenal nuclear. A proposta foi uma clara provocação aos americanos, uma vez que não tinha qualquer respaldo do ponto de vista técnico. A Venezuela gera mais energia hidrelétrica do que precisa — uma parte é vendida ao Brasil — e dispõe da segunda maior reserva de gás natural do continente americano e da sexta maior de petróleo do mundo. A indústria petrolífera venezuelana nem sequer aproveita integralmente as cotas de exportação a que tem direito, por pura falta de investimento. A produção nacional caiu devido à decisão de Chávez de cancelar o plano da estatal PDVSA de investir 65 bilhões de dólares em seis anos para dobrar sua produção diária.

O coronel-presidente avançou de forma concreta, porém, no campo dos armamentos convencionais. Ele determinou a construção de uma fábrica de fuzis no país e a compra de 24 caças russos Sukhoi 30 — avançados jatos de interceptação e ataque capazes de voar a 2.500 quilômetros por hora e carregar 8 toneladas de mísseis e bombas inteligentes. Capazes de percorrer até 3.000 quilômetros sem a necessidade de reabastecer, os aviões poderiam ser usados para atacar todos os países vizinhos, a região do Caribe e até Miami, na costa sul dos Estados Unidos, o que aumenta o risco de instabilidade no continente. As compras incluíram ainda aviões cargueiros da Espanha, radares da Ucrânia e 36 blindados brasileiros, equipados com canhões que podem disparar até 1.000 tiros por minuto. A estratégia de Chávez é fazer ameaças e fomentar o medo para garantir que poderá continuar a estender seu poder.

No campo da influência continental, os resultados foram ambíguos. Com dinheiro vindo do petróleo, Chávez patrocinou vitórias nas eleições presidenciais de apadrinhados na Bolívia, com Evo Morales, e Nicarágua, com Daniel Ortega, representante do sandinismo — movimento que conquistou o poder pelas armas nos anos 70 e arruinou o país com uma política econômica inspirada na cubana. Mas Chávez também colheu derrotas. Os limites da diplomacia dos petrodólares foram escancarados pelos resultados eleitorais no Peru e México — em que os favoritos de Chávez foram derrotados.

Já a democracia doméstica sofreu duros golpes. Completando um ciclo na busca pelo poder absoluto, Chávez conquistou em eleições nacionais 100% das cadeiras na Assembléia Nacional — derradeira instituição em que a oposição ainda dispunha de alguma influência. Às vésperas do pleito, os partidos de oposição decidiram boicotar a votação em protesto contra a parcialidade da Justiça Eleitoral. Apenas um em cada quatro eleitores, por sua vez, compareceu às urnas, visto que o governo iria ganhar de qualquer jeito.

À já existente censura à imprensa, Chávez adicionou a suspensão futura de concessões de TV – aplicável aos canais que desagradam o coronel-presidente. “Não podemos continuar a permitir que um pequeno grupo de pessoas use um espaço de transmissão que é do Estado”, alegou. O predicado “é do Estado”, na visão autoritária do coronel, deve ser entendido como uso exclusivo do presidente da República e seus coligados. Como as concessões da maioria dos canais vencem em 2007, a decisão equivale a cassar o direito de a oposição aparecer na televisão. O cerco está se fechando. Uma reforma no Código Penal aumentou as multas e sanções para os chamados “delitos de opinião” — basicamente, “difamar” ou “injuriar” membros do governo.

Com o respaldo das urnas, o coronel-presidente conquistou o terceiro mandato, no final de 2006. Viu-se, então, à vontade para anunciar a intenção de torcer mais uma vez a Constituição, escrita por ele próprio, de forma a se manter no poder por quanto tempo quiser. As circunstâncias anunciaram-lhe ainda outra oportunidade — a de ocupar o papel que há décadas é de Fidel Castro, o octogenário ditador de Cuba que desapareceu do cenário político devido a uma doença no intestino. Sem Fidel, Chávez se apresentou como novo farol da esquerda revolucionária na América Latina. "Ninguém vai me impedir agora de construir o socialismo", disse às vésperas da terceira posse. No mesmo momento, anunciou ainda que iria multiplicar seus poderes: cobrou do Congresso autonomia para governar por decretos, ficando, assim, livre do saudável debate democrático. Se ganhar dos legisladores a força para legislar sem eles, promete estatizar os setores de energia elétrica e telecomunicações venezuelanos.

Leia aqui reportagem da VEJA

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