Pesquisar este blog

sábado, 26 de maio de 2007

Arthur Virgílio recebe em casa um relátório sigiloso da PF recheado de tarjas pretas

PT poupado

O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) recebeu em casa um dossiê cujo teor é nada mais nada menos que prova explícita do vazamento de informações da Operação Navalha. Trata-se de uma cópia de um relatório da Polícia Federal encaminhado ao Surpemo Tribunal de Justiça (STJ) rechedado com tarjas pretas, tampando nomes e informações de envolvidos no esquema fraudulento cuja cabeça do esquema é a construtora Gautama. Na tribuna, com o documento em punho, o senador defendeu aumentar o escopo da CPI que investigará as obras irregulares que vieram à tona com a Operação Navalha. Ou se for necessário criar uma "CPI das Empreiteiras".

"Este país não terá futuro se não resolver o problema da corrupção endêmica", ressaltou Virgílio. Para o senado a corrupção é "limitadora do crescimento" econômico. Durante seu pronunciamento, o senador do PSDB afirmou que a Gautama realizou diversas obras para a Polícia Federal e "não vi nenhum policial federal ser algemado". Disse ainda que nas obras realizadas para a PF a empresa deve "ter agido dentro da lei".

Virgílio citou um trecho do documento em que há nomes e números de telefones com as respectivas operadoras. "Márcio Fidelson, Flávio Pin, o que se segue é que tem nomes tanto de investigados quanto esses, mas estão sob uma tarja preta", exemplificou. Ele disse que é preciso passar o país a limpo. As oportunidades passam, mas é necessário um reposicionamento. Enfatizou que não faz parte da política dele ser favorável a vazamento de informações, referindo-se ao próprio procedimento ao longo de CPIs anteriores.

A senadora Ideli Salvatti (PT-RS) afirmou que se a intenção de Virgílio foi insinuar que as tarjas estariam poupando nomes de petistas, salientou que muitos governadores e parlamentares tiveram seus nomes envolvidos no processo de investigação divulgados pela imprensa. Ao que o senador imediatamente retrucou que não havia citado o nome do PT e que mais uma vez a senadora poderia ter vestido a carapuça. A senadora informou, após ter consultado Paulo Lacerda sobre as tarjas pretas, que o subterfúgio (as tarjas) é utilizado com o objetivo de preservar nomes de envolvidos em outros processos que devem ser mantidos em sigilo para não comprometer as investigações.

Logo depois de ter ouvido a argumentação da senadora petista, Virgílio questionou: "Poderia até ser, mas tenho uma pergunta que fica no ar. Eles suprimem da página 02 a 08 e na página 09 começa o item 14 dizendo o seguinte: (...) o segundo acusado é o ex-governador do Maranhão, José Reinaldo Tavares, e em cima tem uma tarja. A predisposição que eu faço, sou levado a crer, que em cima estaria o nome do primeiro acusado. Por que eu não posso saber o nome do primeiro acusado? Eu aceito que se comece pelo primeiro e vá até o último. Eu não aceito a supressão nem do último e nem do primeiro. Eu quero saber o nome de todos os acusados."

Questionado se o documento tal qual foi passado anonimaente para o senador do Amazonas indica uma possível manipulação. "Eu fiz a denúncia e pedi a investigação . O documento ele tem o timbre do STJ, mas ele se lastreia nas investigações da Polícia Federal." Ele teme que não fazendo um alerta à Polícia Federal do perigo de se haver uma manipulação "nós estejamos na iminência de ver uma polícia de partido nascendo no lugar de uma polícia de estado. Uma polícia de estado e não de governo. Ela tem que, dentro da lei, dentro dos ritos, obedecer o que a democracia brasileira prescreve, se não vira coisa de justiceiro, vira 'Charles Bronson Direito de Matar nº 20'. Não quero nada disso para o meu país, eu quero corruptos na cadeia e a polícia enquadrada nas regras da democracia brasileira"

Segundo Virgílio, a base do seu discurso era alertar os execessos que a PF às vezes comete. "Pode pôr em risco a credibilidade dela e dificultar, e diminuir a sua força no combate à corrupção. Uma coisa muito boa é a Polícia Federal estar alerta e combater a corrupção, outra é a espetaculosidade, vazamento de informações é o holofote. Isso tudo termina desacreditando a instituição e favorecendo os corruptos que ela precisa combater", explicou.

Foi solicitado o documento original por meio da mesa diretora do Senado que encaminhará ao STJ. Se o requerimento não for atendido, por meio do presidente Renan Calheiros, a CPI, que vai ser instalada, deverá certamente obter, de acordo com o senador.

Em relação a quem seria beneficiado com a divulgação do relatório sigiloso, Virgílio afirmou desconhecer. "Não tenho idéia, seria leviano da minha parte dizer qualquer nome ou tirar qualquer ilação. O vazamento tem que ser coibido, é preciso que os agentes da Polícia Federal saibam daqui para frente que não devem haver, e o vazamento está tão grotesco que foi bater na minha casa, nas mãos do meu filho de quinze anos".

Já com respeito à relação dos políticos com as empreiteiras que serão o foco de uma CPI prestes a sair, o senador afirmou que ele mesmo recebeu uma contribuição para a campanha eleitoral de uma empresa do ramo. No entanto, isso não significa que participará de qualquer pressão como por exemplo um suborno. Se houver uma proposta ilegal por parte da empreiteira, ele a recusará e procurará outra empresa para que contribua em sua campanha para próxima eleição.

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) ficou indignado com o teor do discurso de Arthur Virgílio. Para o senador, o vazamento de informações sigilosas é um problema muito sério. Criticou também o Supremo Tribunal de Justiça que, apesar de a PF se esforçar no seu trabalho, que para ele também às vezes exorbita, o "Supremo derruba tudo em dia de eleição", ou seja poupa mais do que pune. Concordou com Virgílio que os três poderes devem se articular no combate à corrupção.

Nenhum comentário: