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quinta-feira, 28 de junho de 2007

Advogado do diabo

O presimente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu entrar na briga do Senado para defender a manutenção de Renan Calheiros no cargo. Ontem cedo, Lula chamou Renan ao Palácio do Planalto. Conversaram durante 40 minutos sobre o rumo que tomou o processo de investigação do presidente do Senado por quebra de decoro parlamentar, especialmente depois que o DEM defendeu formalmente seu afastamento. Na conversa, Renan reclamou da falta de firmeza dos senadores do PT e da base aliada. Em seguida, Lula recebeu a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), e o vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT-AC), para pedir que a bancada petista dê sustentação ao aliado.

Nas conversas ocorridas no Planalto, foi feita uma avaliação de que o DEM decidiu trabalhar para tirar Renan Calheiros da presidência, tentar fazer seu sucessor e pôr em risco a governabilidade.

— O que está em jogo para a oposição não é a questão ética, mas a governabilidade e a disputa política — disse Ideli, após o encontro.

Desde o início da semana, Lula está intervindo junto aos senadores petistas, pedindo que dêem apoio ao presidente do Senado. Entre os governadores que também receberam esse apelo do presidente estão o tucano Cássio Cunha Lima (PB) e os petistas Marcelo Déda (SE) e Jaques Wagner (BA).
Nessas conversas, foi traçado um paralelo com o que ocorreu na Câmara, em 2005, quando, após a renúncia de Severino Cavalcanti, a oposição lançou a candidatura do então deputado José Thomaz Nonô (AL) para a presidência.
Em determinado momento, Nonô ameaçou concretamente o comando governista.

“Afinal, quem pôs Suplicy no Conselho?”, diz Lula

Lula, citando a crise do mensalão, cobrou de Ideli Salvatti e Tião Viana mais determinação dos senadores do PT na defesa de Renan e criticou a atuação de petistas e aliados no Conselho.
— Afinal, quem foi que pôs o Suplicy no Conselho? — perguntou Lula, acrescentando: — Vamos nos esconder como na crise de 2005? Renan explicou ao presidente por que o PMDB não queria mais a presença do senador Sibá Machado (PT-AC) na presidência do Conselho de Ética. O peemedebista relatou que foi feita uma proposta que poria fim à crise, mas que Sibá não tinha aceitado levá-la adiante, pressionado pela oposição. Renan argumentou que, ao ceder à oposição, Sibá tinha perdido a isenção para presidir o julgamento.
Antes do encontro com Lula — que, segundo a assessoria do Planalto, foi pedido pelo senador —, Renan já havia mandado recados.

Numa conversa com Ideli, deixou claro que o PMDB sempre foi fiel ao governo e que não aceitaria ser abandonado. Para aliados de Lula, os recados de Renan soaram como ameaças. Diante do presidente, Renan foi mais sutil. Mas fez questão de registrar a mesma mensagem.

Mesmo evitando defender publicamente o presidente do Senado, Lula está cobrando solidariedade de políticos. Com pelo menos três interlocutores, inclusive governadores, pediu um gesto em favor de Renan.

— Vocês já foram falar com o Renan? Já ligaram para ele? — perguntou Lula em conversa com um grupo de aliados, no início desta semana.
Na mesma conversa, Lula fez um desabafo sobre a situação de Renan: — Já estou vacinado contra essas coisas que agora estão fazendo com Renan. Conheço bem o que é isso! Já passei por esse tipo de sofrimento.

O presidente também externou sua preocupação com a situação do Senado. Ele admite que Renan tem um papel importante na aliança política e no comando do PMDB na Casa.
Lula considera que um eventual afastamento de Renan da presidência poderia provocar problemas de governabilidade no Senado e dificuldades para aprovação de matérias de interesse do Executivo. Para o presidente, o governo encontrara um equilíbrio político no Senado nesta legislatura, depois das dificuldades do primeiro mandato.

Assessores do Planalto reforçam que um eventual afastamento de Renan Calheiros é preocupante para o governo. Mas articuladores reconhecem que o enfraquecimento político do presidente do Senado pode ajudar a equilibrar o poder na base aliada. De acordo com esses relatos, Renan sempre cobrou uma contrapartida muito elevada do Planalto, com nomeação de cargos e liberação de emendas, em troca de seu apoio. Mesmo assim, é consenso no núcleo do Planalto que o afastamento de Renan poderia paralisar o Senado, com conseqüências para o governo.

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