Pesquisar este blog

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Lula não se pronuncia sobre Vavá

BERLIM. Silêncio ontem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o suposto envolvimento de seu irmão, Genival Inácio da Silva, o Vavá, com a máfia de caça-níqueis. Um dia depois de defender o irmão e de também defender o trabalho de investigação da Polícia Federal, o presidente evitou a imprensa, no seu primeiro dia em Berlim.

Seus colaboradores também não quiseram tocar no assunto. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, reagindo a uma pergunta da imprensa, disse que não sabia se o presidente Lula havia telefonado para o irmão.

Ele negou que Lula estivesse irritado anteontem, na Índia, ao tomar conhecimento do caso, o que havia sido confirmado por outros membros da comitiva.

— Fiquei surpreso com as notícias dos jornais. Tive uma reunião às 9h com ele, e o encontrei por volta das 7h e pouco, quando voltava de uma corrida.

Conversamos lá no hotel.

Depois, tive uma reunião com ele às 9h e não senti nenhuma irritação. Ele estava muito bem — disse o ministro.

Outros integrantes da comitiva, porém, relataram que Lula ficou irritadíssimo ao ser avisado, horas antes, que a PF faria busca e apreensão na casa de seu irmão.

Jorge afirmou que o presidente continuava ontem “como sempre”, isto é, com o mesmo humor. O ministro disse que desconhecia se Lula havia ligado para o ministro da Justiça, Tarso Genro, ou para o irmão Vavá. O presidente passou o dia dentro da embaixada. No fim da tarde, ele deveria sair para ver um novo modelo de caminhão a biodiesel da Mercedez-Benz, que estava estacionado na frente da embaixada. Um tapete vermelho já havia sido estirado na porta do prédio. No último momento, Lula cancelou por falta de tempo, segundo seus assessores. Na embaixada, Lula se encontrou com dirigentes de empresas alemãs, como o vicepresidente da Daimler Chrysler, Hubertus Troska, e dirigentes políticos.

Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, disse que o presidente estava muito bem. Ele também negou que o presidente tivesse se irritado anteontem, quando soube da suspeita de envolvimento de seu irmão no escândalo da máfia de caça-níqueis.

— Ele estava como ontem, como anteontem, e como antes de anteontem — disse Marco Aurélio Garcia.

Até o político alemão Gregor Gysi, do partido da esquerda admirador do PT, observou descontração do presidente.

— Eu vi o presidente Lula recentemente no Equador, naquele momento observei que ele estava um pouco tenso.

Mas hoje (ontem) ele estava muito descontraído — disse o político.  LULA, ao lado de Miguel Jorge, cumprimenta presidente da Mercedes Benz

Genival arrecadava com os bingueiros

Investigações da Polícia Federal revelam que o irmão mais velho do presidente Lula, Genival Inácio da Silva, o Vavá, de 66 anos, pedia dinheiro a empresários de bingos e caçaníqueis envolvidos em crimes, a pretexto de influir politicamente no Executivo e explorar seu prestígio junto ao Judiciário. Segundo a PF, Vavá — que foi indiciado por exploração de prestígio e tráfico de influência — pedia pequenas quantias, de R$ 2 mil, R$ 3 mil, para favorecer donos de bingos e caça-níqueis presos na Operação Xeque-Mate.

Segundo a PF, não há envolvimento direto de Vavá com os jogos de azar nem contrabando, objetos da operação.

— Ele (Vavá) não chegava a efetivar os pedidos, sequer os encaminhava. Mas, de qualquer modo, como irmão do presidente da República, pedia dinheiro a pretexto de influir politicamente nas ações criminosas.

E isso é crime — afirmou um delegado da PF que atua no caso e que pediu anonimato.

Os delegados que comandam a investigação entregaram ontem à Justiça cerca de 40 CDs, que incluem gravações telefônicas.

Além de gravações de telefonemas envolvendo Vavá, obtidas com autorização do juiz Dalton Conrado, de Campo Grande, um dos presos na operação, Andrei Cunha, aceitou o sistema de delação premiada e contou que o irmão do presidente pedia dinheiro. Cunha é ex-gerente de uma casa de caçaníqueis de Nilton Cezar Servo, chefe das quadrilhas investigadas na operação e de quem se tornou desafeto.

Servo é ligado a Vavá e Morelli  Servo, que também está preso com a mulher, os três filhos e funcionários de suas casas de caça-níqueis, espalhadas por Mato Grosso do Sul, Paraná, São Paulo e Minas Gerais, é amigo de Vavá e fazia festas em Caraguatatuba, em São Paulo, na casa de praia de Dario Morelli Filho, compadre de Lula.

— Na verdade, o Vavá é um cara simples, quase analfabeto, que enrolava as pessoas, porque não conseguia passar da porta do Palácio do Planalto, não tinha relações para isso — disse outro delegado da Polícia Federal que atua no caso.

O ex-gerente Andrei Cunha contou à PF que Servo costumava ficar irritado com os pedidos de Vavá, que lhe pedia sempre pequenas quantias.

Todas as vezes em que Servo ia a Caraguatatuba, Vavá lhe pedia dinheiro, de acordo com Cunha. O advogado de Cunha, Marcelo Dib, confirmou que seu cliente aceitou a delação premiada.

Dos 80 investigados pela PF, apenas Vavá e o empresário Jamil Name, indiciado ontem em Campo Grande, não foram detidos.

Além desses 80, outros sete envolvidos continuavam foragidos até o fim da tarde ontem. A PF informou que não há provas suficientes que apontem a necessidade de prisão de Name.

O filho de Vavá, Edison Inácio da Silva, negou que o pai tenha imóvel em Caraguatatuba, onde teria se encontrado com Servo.

Segundo ele, a família possui apenas duas casas modestas em Paulicéia, São Bernardo do Campo.

Edison confirmou que Dario Morelli Filho tem um apartamento em Caraguatatuba, mas negou que o pai o freqüente.

— Pelo que sei, meu pai nunca foi lá — disse Edison.

Vavá e a família aguardavam ontem o contato do advogado contratado em Campo Grande para acompanhar o caso. Eles dizem não saber o teor das denúncias que levaram o juiz da 5aVara Federal de Campo Grande, Dalton Conrado, a autorizar a busca e apreensão.

Servo, preso anteontem em Uberlândia, passou o dia depondo na PF em Campo Grande. O depoimento terminou por voltade 22h. Ele foi indiciado por quatro crimes: corrupção, formação de quadrilha, falsidade ideológica e contrabando. Servo tem o hábito de afirmar que também é amigo do presidente Lula. Ele foi candidato a cargos de deputado, prefeito e senador por seis vezes, por partidos aliados ao PT nas eleições, e já assumiu uma vaga de suplência na Assembléia Legislativa do Paraná.

Name, indiciado ontem, é dono de uma casa de bingos em Campo Grande. Ele disse que já intermediou para Servo a compra de uma máquina para caça-níqueis. Segundo Name, Servo se gabou várias vezes de suas relações políticas: — Ele (Servo) dizia que tinha o beneplácito do presidente (Lula) — disse Jamil Name, que é cunhado do presidente da Assembléia Legislativa do Mato Grosso do Sul, deputado Jerson Domingos (PMDB). O filho de Name, Jamil Name Filho, é um dos presos na operação.

Name disse que seu filho foi preso por ter sido avalista de dois cheques (de R$ 15 mil e outro de R$ 60 mil) para Gandi Jamil, um contraventor que teve a prisão temporária decretada na operação e está foragido. Gandi e o empresário Itacir Sebben, outro preso, eram sócios de um cassino em Pedro Juan Caballero, no Paraguai.

Nenhum comentário: