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domingo, 10 de junho de 2007

Vavá

O irmão mais velho, Genival Inácio da Silva, o Vavá, e o compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dario Morelli Filho, atuaram em negociatas, inclusive com empreiteiras, e tentaram conseguir um financiamento de R$ 100 milhões no BNDES, no mesmo esquema de ilegalidades descoberto pela Operação Xeque-Mate da Polícia Federal, demonstram os grampos telefônicos feitos pela PF este ano. As gravações indicam que o compadre, filiado ao PT, teria mais “peso” que Vavá e era acionado para as operações mais complexas. Morelli teria influência, inclusive, na bancada de deputados do PT. A PF não concluiu se as operações foram efetivadas.

Já o irmão de Lula seria uma espécie de “terceirizado” do ex-deputado Nilton Cezar Servo, que tentava faturar propinas em cima das indicações que fazia para Vavá. As gravações da PF, feitas com autorização da Justiça, sugerem que Vavá fazia os serviços menores, porque, segundo Servo afirma nas gravações, contentaria-se “com R$ 15 mil, R$ 20 mil”. De empreiteiros ainda não identificados, Vavá recebeu “um pacotinho de dinheiro”, segundo o relatório da PF.

Morelli, filiado ao PT e apontado como sócio de Servo numa rede de caça-níqueis em vários estados, teria acesso irrestrito à bancada do PT, segundo os diálogos.

Ele aparece em uma ligação para o ex-deputado federal Sigmaringa Seixas, que ele chama de “Sig”. O compadre de Lula tenta marcar uma reunião com o deputado e Servo.

Morelli quis contratar Sigmaringa como advogado Sigmaringa confirmou que foi procurado por Morelli há mais de duas semanas e que ele estava com Servo e outras duas pessoas. O grupo queria contratálo como advogado, para uma causa relacionada a propriedades rurais em Goiás. O ex-deputado afirmou ter recusado a proposta por se tratar de uma questão fundiária, assunto que não domina.

— Eu o conheço (Morelli) há muito tempo. Ele trabalhou pelo PT. Mas não faz sentido (a PF) divulgar essa conversa.

Uma das articulações em que aparecem tanto o compadre quanto o irmão de Lula é em torno de uma empreiteira, cujo nome não foi divulgado, que teria interesse em uma obra pública e tem como negociador um certo “Acássio” e um terceiro lobista identificado como Pio Piovezan ou Serra, cunhado de Servo.

Vavá resolveria o problema de Acássio, que arrumaria dinheiro para o irmão de Lula. O empreiteiro teria oferecido R$ 5 mil, que Servo chama de dinheiro de “cachaça”, considerado o vulto do acordo. Além disso, “de picado em picado”, Servo já teria conseguido entre R$ 14 mil e R$ 15 mil para Vavá, segundo o relatório.

Mas o negócio é articulado também por meio de Morelli, sempre com Servo no comando do lobby. Vavá teria saído do negócio com R$ 15 mil ou R$ 20 mil, sem muito sucesso na empreitada.

Servo diz a Acássio: — Dario é uma outra linhagem, vai em cima para resolver o problema. Tanto que o Dario tá (sic) vindo para cá (Campo Grande) amanhã, tá vindo ele e o filho do homem, mas nem o Vavá sabe disso.

Quatro dias depois, Servo explica ao seu irmão, Nivaldo Servo, que “Dario tem mais força política que Vavá”. Em 20 de março, Servo diz que ele estaria pedindo a Morelli para acionar os deputados do PT, para resolver o “problema das apreensões das máquinas caçaníqueis em Curitiba”.

Outra negociata envolveria um empresário de Manaus, que estaria entre os três maiores da cidade. Ele estaria com o projeto de financiamento de uma indústria de papel higiênico, de R$ 100 milhões, já pedidos ao BNDES.

O negócio estaria parado no banco e o grupo, aliado a Morelli e a um personagem designado apenas como “o filho do homem”, estaria vindo a Campo Grande no final de março. Em outra gravação, fica claro que o “filho” estaria em Campo Grande junto com Morelli.

Em outra operação, ruralistas intermediados por Servo pedem a ajuda de Vavá para mudar uma decisão do Superior Tribunal de Justiça. Identificado como “André”, o ruralista perdeu uma ação por 5 a zero no STJ e quer anular a sentença. Seria uma ação contra uma usina de cana em Assis (SP). O ruralista e seu irmão, Rodrigo, teriam áreas desapropriadas por Furnas, de valores que variam entre R$ 40 milhões e R$ 60 milhões. Neste caso, ficaria claro que Vavá receberia dinheiro de Servo para fazer tráfico de influência, segundo o relatório da PF.

No final da operação, Vavá teria driblado o esquema de Servo e seu irmão Nivaldo, e se reunido sozinho em Brasília com um dos ruralistas. Os Servo dizem que foram passados para trás pelos “vagabundos” e perderiam sua comissão. Servo define Vavá como um homem “perigoso mesmo pro homem (numa provável referência a Lula)” e um tipo de “laranja”.

— Ele acha que você vai ficar alimentando ele e ele cortando você dos negócios — diz um cunhado de Servo, identificado como Serra.

Em conversa com o ruralista André, Servo explica: — É como se você fosse contratar um advogado (...) Só que está indo com um peso pesado para arrebentar (Vavá), que mais peso que isso não existe no Brasil .

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