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sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Satiagraha-SUMÁRIO

Por que a Satiagraha tira o sono do governo?

Hugo Studart

Vamos a um mosaico de pequenas histórias:

1) Era março de 2008 quando o diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, chamou um de seus delegados, Protógenes Queiroz, e lhe fez um pedido. Na verdade, era uma ordem. Ordem superior, que lhe fora transmitida pelo ministro da Justiça Tarso Genro. Em suma, Corrêa mandou Protógenes parar com a investigação sobre o banqueiro Daniel Dantas. Ou pelo menos fazer corpo-mole. Enfim, mandou não descobrir nada de essencial.

) Protógenes achou tudo absurdo e não quis obedecer. Ou deixou isso claro, ou deixou nas entrelinhas da conversa. O fato é que, ato contínuo, a operação que ele preparava vazou para a Folha de São Paulo, provavelmente por ordem de Corrêa. Por isso, numa trapalhada, o delegado pediu a prisão da repórter da Folha Andréa Michael, autora da reportagem. O fato mais relevante, contudo, é que Corrêa retirou todos os recursos de Protógenes para prosseguir com as investigações contra Dantas. Retirou policiais e secou a fonte de dinheiro.

Protógenes procurou então seu antigo chefe, o delegado Paulo Lacerda, ex-diretor da PF e na ocasião diretor da Abin. Lacerda é o mentor intelectual de Protógenes. O delegado contou ao guru o que estava acontecendo. É público que Corrêa chegou à PF com a missão de desmontar a turma de Lacerda. Missão que lhe foi dada por Tarso Genro. Lacerda e Corrêa são inimigos; seus homens de confiança desconfiam da turma do outro. Há hoje duas grandes facções na PF obedecendo a dois chefes, Lacerda e Corrêa. Protógenes é declaradamente da facção de Lacerda.

) O que fez Lacerda? Ora, acertou com Protógenes que agentes da Abin iriam ajudá-lo. E disponibilizou agentes. Minha principal fonte, que é lá de dentro, que é do sistema de inteligência, não sabe ao certo se Lacerda disponibilizou de cara os mais de 50 agentes que acabaram sendo utilizados. Ou se disponibilizou um ou dois, ou meia dúzia -- e Protógenes acabou arrancando os 80 nas costas de Lacerda. Ou se foi Lacerda quem resolveu de fato bancar a operação desde o início. De qualquer forma, é muito difícil que Lacerda não estivesse sendo informado de cada detalhe. O importante: Lacerda entrou numa operação de investigação contra um empresário que deu R$ 40 milhões para o PT, contra a PF, contra as ordens do ministro da Justiça, e provavelmente sabendo quem seria a tal Letícia da "Operação Letícia".

No meio do caminho, acabaram grampeando um advogado de Dantas conversando com um assessor do presidente do Supremo, Gilmar Mendes. E seguindo esse advogado, acabaram flagrando-o num jantar com o assessor do ministro Gilmar. O resto, as insinuações de que Gilmar estaria envolvido, fazem parte da mente paranóica de Protógenes.

6) E o grampo em Gilmar? Ainda não consegui saber com minhas fontes se o ministro foi de fato diretamente grampeado, o que é absurdo, ilegal, um crime. Ou se foram grampeados somente os advogados de Dantas, que mantinham contatos com o assessor de Gilmar, e através dessa triangulação Protogenes ficava sabendo parte do que acontecia no gabinete do presidente do Supremo.

) O que se sabe de concreto é que o diálogo grampeado entre Gilmar e o senador Demóestenes Torres teria sido grampeado no Senado. Isso porque no diálogo fica claro que Gilmar estava falando de um celular, num carro em movimento. Demostenes estava em seu gabinete quando telefonou para o gabinete de Gilmar, e a secretária transferiu a ligação para o celular. Significa que há 99% de chances desse grampo específico ter sido em cima de Demóstenes.

8) E porque haveriam de grampear Demóstenes? Não tenho a menor idéia. Umas das versões que Protógenes espalha é que teria sido armação para desmoralizá-lo, mas aí é teoria da conspiração em nivel muito elevado para a minha cabeça.

10) Sabem o que é mais interessante? O diretor da PF Luiz Fernando Corrêa colocou um jovem (e inexperiente) delegado para completar a investigação da Satiagraha, para cobrir as supostas falhas de Protógenes -- e o garoto não avançou um milímetro. Ao contrário, andou para trás.

RESULTADO: o notebook de Daniel Dantas, onde está explicitado para quem ele deu R$ 40 milhões está caindo no esquecimento. A ministra Ellen Gracie, do Supremo, negou meses atrás o pedido da PF de abrir o disco rígido. E até agora PF não foi capaz inverter a situação.

PERGUNTA: Quem seria a Letícia que deu nome à operação de repasse para o PT? Por que Letícia?(Seria alguma referência,ao segundo nome da primeira-galega?)

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