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domingo, 20 de agosto de 2006

Falsificação de dólares na Coréia do Norte.Os comunistas têm padrão de qualidade sensacional.

Há mais de duas décadas a economia da Coréia do Norte entrou em colapso. Foi a mesma crise que acabou por derrubar o regime soviético e todo o bloco comunista europeu. Ela teria levado a China junto se o Partido Comunista não tivesse decidido implementar sua combinação de opressão política com capitalismo sem regras. A Coréia do Norte, o mais fechado regime comunista do mundo, no entanto, sobrevive como se nada tivesse acontecido. As notícias de pobreza extrema e fome no país impressionaram o mundo. Mas o regime de Kim Jong Il continua tão firme quanto sempre esteve. Sem grandes recursos naturais, sem uma indústria forte, sem produção agrícola expressiva, como o governo norte-coreano consegue recursos para continuar mantendo o controle férreo sob o qual mantém a população?

A resposta parece ser cinicamente simples. O governo não consegue os recursos. Ele é acusado de fabricá-los. O principal produto norte-coreano hoje, dizem os serviços secretos dos Estados Unidos e da Europa, são notas falsas de US$ 50 e US$ 100, fabricadas pelo próprio governo norte-coreano.A idéia teria nascido em 1970. Naquela época, o ditador Kim Jong Il ainda não estava no topo. O chefe era Kim Il Sung, fundador da Coréia comunista e pai do atual ditador. Sob um tênue verniz ideológico, Kim Jong Il teria armado um esquema dentro do governo para copiar as notas americanas. A idéia, ou ao menos a justificativa para consumo interno do Partido Comunista, seria a seguinte: tratava-se de um ato de soberania e luta contra a opressora dominação da economia mundial pelos EUA. O esquema consistia em tirar a tinta de notas de US$ 1 e reimprimi-las como se fossemde US$ 100. Não eram cópias ruins. Mas também não eram nada de mais.

Em 1989, porém, o mundo do combate à falsificação de dinheiro viu uma novidade. Um funcionário do Banco Central das Filipinas desconfiou de uma nota de US$ 100. Os testes normais não detectaram nenhum defeito. A nota apenas parecia estranha. As Filipinas entregaram a nota suspeita aos EUA e o serviço secreto americano começou a investigá-la.
Não era nada com que os investigadores estivessem habituados. A nota era impressa em papel igual ao usado oficialmente nos EUA. Uma combinação de três quartos de algodão com um quarto de linho. Era impressa pela técnica de gravura a entalhe. Nessa técnica, a tinta fica entranhada em cavidades de uma placa de metal, depois é imprensada contra o papel. É a mesma técnica usada pelas Casas da Moeda. A nota era tão boa, para os padrões de falsificação habituais, que os investigadores começaram a chamar a nota filipina, e as semelhantes a ela encontradas depois, de supernotas.
Tanto para fabricar o papel quanto para fazer um entalhe no padrão de qualidade de uma supernota, são necessários equipamentos sofisticados. Os poucos fabricantes desses equipamentos só os vendem a governos. Conforme iam encontrando mais e mais supernotas, os investigadores americanos tentavam traçar que governo seria esse. Como muitas das notas apareceram no Vale do Bekaa, no Líbano, controlado pelo Hezbollah, e em Teerã, capital do Irã, chegou a ser aventada a hipótese de que o regime iraniano estivesse por trás das supernotas.

Em 1997, a situação na Coréia do Norte ficou insuportável para Hwang Jan Yop e Kim Duk Hong. Hwang, ex-secretário do Partido Comunista, e Kim, diretor de uma empresa estatal, foram os mais graduados de uma série de norte-coreanos que fugiram do país naquele ano. Os dois acusaram Kim Jong Il de ser o mentor do esquema de falsificação. Em Pyongyang, capital do país, há um complexo de edifícios fortemente guardados. Ficam perto da casa de Kim Jong Il. Entre os vários edifícios, segundo uma reportagem publicada recentemente na revista do jornal New York Times, ficam os Escritórios 38, 39 e 35. Os três servem para as atividades mais secretas do governo norte-coreano.

O número 35 seria responsável por atividades como seqüestros, assassinatos e sabotagens. O 38 apenas administraria fundos. E o 39 produziria esses fundos. Há no edifício, segundo as acusações, atividades legais como exportação de cogumelos, ginseng e algas comestíveis. Mas a maior parte do dinheiro viria da fabricação pirata de drogas como Viagra, da venda de tecnologia de mísseis, proibida por tratados internacionais, e da falsificação de dinheiro.
Até 2004, as supernotas norte-coreanas eram encontradas em várias partes do mundo, mas não nos EUA. Foi quando um carregamento de US$ 300 mil em notas de US$ 100 foi apreendido no Porto de Newark, escondido no fundo falso de um contêiner que carregava brinquedos chineses. Seguiram-se outras apreensões. No ano passado, um carregamento de US$ 700 mil foi descoberto num barco em Long Beach, Califórnia.

Os dois carregamentos sugerem que a Coréia do Norte está se sofisticando no negócio. Em primeiro lugar, as entregas parecem constituir um esquema alternativo de distribuição das notas falsas. Antes, quase todo o dinheiro supostamente fabricado em Pyongyang era depositado em bancos como o Banco Delta Asia, de Macau, na China. Daí entrava no mercado especialmente por meio dos cassinos de Macau.

Medidas tomadas pelos países europeus e pelos EUA contra esses esquemas, no entanto, teriam levado a Coréia do Norte a mudar os métodos. As apreensões nos EUA são evidência de que o governo norte-coreano pode estar vendendo as supernotas a quadrilhas criminosas nos EUA. Cada nota de US$ 100 seria vendida por 70% do valor. É por isso que as supernotas ficaram conhecidas como notas de US$ 70.
O mais impressionante nas supernotas apreendidas nos EUA é o avanço técnico em sua produção. Em 1996, na tentativa de acabar com a falsificação de dólares, o governo americano decidiu mudar as notas pela primeira vez desde 1928. Além de abandonar os padrões simétricos das notas antigas, mais fáceis de copiar, as novas notas contêm vários detalhes especialmente imaginados para dificultar a falsificação. Há uma linha especial dentro do papel, uma marca-d'água e uma microimpressão de letras. Tudo isso aparece nas supernotas. O mais avançado mecanismo usado nas novas notas americanas é uma tinta que muda de cor. Olhada de um ângulo, uma parte da nota parece verde. Mudado o ângulo, parece preta.

A tinta que permite esse efeito é fabricada por uma única empresa no mundo, localizada na Suíça. E os EUA têm os direitos exclusivos para a tinta que muda de verde para preto. Pois a Coréia do Norte comprou os direitos para a tinta que muda de verde para magenta, uma tonalidade de vermelho. Magenta é a cor mais facilmente alterável quimicamente para preto. As novas supernotas são detectadas não por um defeito, mas por um excesso de qualidade. Os analistas consideram que os desenhos delas são mais precisos que os das notas reais.

A enxurrada de notas falsas fez com que a Coréia do Norte fosse banida do sistema bancário internacional. O país exige que a proibição de ter contas em bancos internacionais seja suspensa antes de retomar negociações sobre o fim de seu programa de armas nucleares. Falsificação e ameaça nuclear. Os líderes da Coréia do Norte formam um governo ou uma quadrilha?

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