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sexta-feira, 15 de setembro de 2006

Lula sai em auxílio a aliados do PMDB

O PMDB pediu maior empenho do PT e do presidente Lula em favor de seus candidatos majoritários nos Estados. Lula atendeu o pedido e dedicou o fim de semana a socorrer candidatos do partido em dificuldades, mas o PT, desconfiado do apetite do parceiro, ainda é um obstáculo para que o presidente consiga ampliar a adesão do PMDB em um segundo mandato. A aliança passa por seu primeiro teste nas eleições de outubro.

Neste sábado, Lula irá a João Pessoa (PB), um dos quatro Estados em que o PT apóia o PMDB. Tenta transferir um pouco do prestígio de que dispõe no Nordeste e dar um empurrão às candidaturas do senador José Maranhão, ao governo, e de Ney Suassuna, ao Senado, que enfrentam uma acirrada disputa com os tucanos Cunha Lima e Cícero Lucena. Suassuna, líder do PMDB no Senado, teve seu nome ligado ao escândalo das sanguessugas.

No domingo, a escala será em Belém (PA). A exemplo do que fez em Pernambuco, onde reuniu no mesmo palanque os candidatos Humberto Costa (PT) e Eduardo Campos (PSB), Lula terá a seu lado o PMDB de Jader Barbalho, cujo candidato ao governo é o deputado José Priante, e o PT da senadora Ana Júlia, que tem chances remotas de disputar um segundo turno contra o tucano Almir Gabriel, o favorito na disputa. Neste caso, o maior beneficiário da ajuda de Lula deve ser o candidato do PMDB ao Senado, Luiz Otávio, que está em ligeira desvantagem em relação ao tucano Mario Couto.

Num quadro em que a oposição deve ampliar seu espaço no Senado, podendo talvez até ser majoritária, os dirigentes pemedebistas argumentaram que é importante a eleição de qualquer senador aliado, caso específico de Luiz Otávio, ligado a Jader, um dos integrantes do conselho político da campanha à reeleição do presidente. O ideal, para o PMDB, seria a retirada da candidatura petista ao Senado (Márcio Cardoso), que está bem atrás dos outros dois concorrentes, mas o PT ainda aposta no alto índice de indefinição na eleição para o Senado, segundo as pesquisas.

Com a retirada da candidatura de Cardoso, o deputado Jader poderia fazer um movimento semelhante e apoiar Ana Júlia ao governo do Estado e tentar provocar o segundo turno. Nesse caso, PT e PMDB, juntos, teriam condições de derrotar os tucanos. E Luiz Otávio, um senador cuja indicação para ministro do Tribunal de Contas da União está até hoje em suspenso, por ter sido investigado pelo próprio TCU, teria mais condições para conseguir a reeleição.

Um exemplo maior das dificuldades nas relações PT-PMDB é o de Santa Catarina, com a disputa entre o atual governador, o pemedebista Luiz Henrique, e o ex-governador Esperidião Amin (PP). O ex-ministro José Fritsch, da ala esquerda do PT, não tem chances, segundo as pesquisas. O PMDB cobra o apoio petista na eventualidade de um segundo turno, mas o PT local resiste. Tem até um bom argumento: para a eleição, Luiz Henrique aliou-se ao presidente do PFL, Jorge Bornhausen, o que inviabilizaria qualquer acordo.

Um integrante do comando de campanha de Lula disse ao Valor que não é impossível o apoio de Fritsch a Luiz Henrique, caso se configure essa situação. O PT nacional deve trabalhar nesse sentido. O PMDB catarinense duvida, até pelo comportamento petista durante a campanha. A cúpula pemedebista que negocia com Lula tenta convencer o presidente de que apoiando Luiz Henrique pavimentará o caminho para que o governador venha a integrar o grupo que o apóia no partido, conhecido por sua divisão.

No Paraná, agora com a perspectiva concreta de reeleição no primeiro turno, o governador Roberto Requião deve reembarcar logo na candidatura Lula. O governador já apóia a candidata petista ao Senado, Gleisi Hoffman, mulher do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Mas estava incomodado com o lançamento de uma candidatura do PT ao governo estadual. Mesmo do Rio Grande do Sul, um caso perdido em termos eleitorais, os pemedebistas dizem a Lula que pode esperar pelo menos uma trégua, com a chegada do ex-presidente do Supremo Nelson Jobim ao governo federal.

Lula tem um empenho especial na eleição de Maguito Vilela em Goiás, que também deve vencer no primeiro turno, apesar de o PT ter candidato próprio. O interesse é pessoal: quer derrotar o candidato do ex-governador Marconi Perillo, que não só declarou que lhe contara sobre o "mensalão" como mais tarde disse que Lula se limitara a responder: "Você cuida dos seus deputados e eu cuido dos meus".

O principal temor do PT é em relação ao apetite com que o PMDB se prepara para entrar no governo. No partido já se fala em até oito ministérios e nas presidências da Câmara e do Senado, o que assusta os petistas, que pensam em Ricardo Berzoini (SP) para presidir a Câmara. Além disso, alegam que o PMDB não sairá das urnas com a força propalada. No Senado, pelo que apontam as pesquisas, pode se transformar até na terceira força, o que o tornaria dependente dos outros partidos aliados para tentar reeleger Renan Calheiros. O PT também não quer entregar a coordenação política, ambicionada para Nelson Jobim. Os governistas, aliás, já falam que Jobim pode ter papel político efetivo num próximo governo Lula, independente da Pasta para a qual for designado.

O PMDB não-governista é cético em relação à possibilidade de haver uma relação institucional entre o partido e o governo. Essa ala do PMDB acredita que seja qual for o presidente o partido permanecerá rachado.

Valor Econômico

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