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sexta-feira, 20 de abril de 2007

Governo quer fazer valer o peso do Brasil nas relações com os vizinhos

Em menos de uma semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva subiu o tom não apenas com o boliviano Evo Morales, mas também com o venezuelano Hugo Chávez, durante a cúpula energética da América do Sul, realizada em Isla Magarita, na Venezuela.

As razões são diferentes, mas contribuíram para que a diplomacia brasileira mudasse de atitude e orientasse Lula a fazer valer o papel do Brasil. Não apenas o de grande comprador de gás natural da Bolívia, mas de líder regional, para evitar que Chávez abortasse a idéia do etanol, defendida, em todo o mundo, pelo governo brasileiro.

— Chegou a hora da verdade — disse o embaixador José Botafogo Gonçalves, presidente do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais, para quem Lula havia sido muito tolerante até agora com os dois vizinhos.

— Já sabíamos que as relações com a Bolívia seriam marcadas por sobressaltos. Quanto à Venezuela, está mais do que evidente que as pretensões políticas de Chávez nada têm a ver com os projetos brasileiros — afirmou Botafogo.

Banco do Sul, etanol e gás foram temas de divergência De fato, as investidas de Chávez na disputa pela liderança na região acabaram irritando Lula. Fontes da área diplomática explicaram que, se o presidente brasileiro não tivesse marcado posição quanto ao etanol, investidores internacionais acabariam olhando com certa desconfiança um projeto sem o aval de parte dos vizinhos sul-americanos.

Lula também tomou posição quanto à criação do Banco do Sul, que tem sido propagado como uma das principais bandeiras de Chávez e que já conta com total adesão do presidente da Argentina, Néstor Kirchner.

A orientação era deixar claro que o Brasil não se diz contra a idéia, mas precisa de mais tempo para avaliar a viabilidade da instituição que, a princípio, terá seu orçamento formado pelas reservas internacionais dos países acionistas.

— O presidente Lula sempre será a favor da integração da América do Sul e não abre mão disso. Mas, em algumas ocasiões, precisa agir com firmeza — disse um diplomata brasileiro de alta graduação.

Ele acrescentou que, para Lula, as últimas declarações de Morales chegaram ao limite. Embora o presidente boliviano venha sendo movido por fatores políticos, devido à dificuldade em concluir a nacionalização das reservas de gás e petróleo no país, Lula estaria decepcionado com a ingratidão de Morales frente aos esforços do Brasil de promover programas de cooperação, para ajudar o país vizinho a se desenvolver.

Para o historiador e professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília José Flávio Sombra Saraiva, a atitude de discrição da diplomacia brasileira, verificada nos últimos anos, precisou ser estrategicamente interrompida.

— O grau de lealdade com que o Brasil tem tratado a Venezuela em momentos difíceis não estava sendo retribuído.

O mesmo se pode dizer de Morales — disse Saraiva.

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