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segunda-feira, 4 de junho de 2007

O Crime Perfeito de Renan

Que ironia! Para preservar seu casamento, Renan Calheiros escondeu provas de que se relacionara com a jornalista Mônica Veloso, mãe de uma filha recente dele. Para preservar o mandato de senador, ele agora está sendo obrigado a desencavar provas de que pagou despesas de Mônica e da filha, dispensando o dinheiro de um lobista de construtora.

Renan salvou o casamento e está muito perto de salvar o mandato. Na avaliação dos que o cercam, ele venceu de goleada no fim da semana a crucial batalha das revistas semanais. Quanto aos jornais, até aqui foram incapazes de levantar fatos que possam pôr em risco o mandato dele e o exercício pelos próximos dois anos da presidência do Senado.

Com a exibição de documentos, “Veja” reforçou a suspeita de que despesas particulares de Renan foram pagas por Cláudio Gontijo, lobista da construtora Mendes Júnior.

Avalista de aluguéis de imóveis onde Mônica morou de 2004 ao final de 2005, Gontijo pagou a uma empresa de segurança para protegê-la.
Em abril último, comprou um flat que foi de Renan.

“Época” deteve-se na análise de documentos compilados por advogados de defesa de Renan. Embora tenha concluído ser impossível garantir que Renan pagou despesas de Mônica com recursos próprios, a reportagem da revista foi comemorada pelo senador como tendo sido amplamente favorável a ele.

Sob o título “A história de uma chantagem”, “IstoÉ” preferiu explorar gravações de telefonemas íntimos trocados por Mônica e Renan. Entrevistou Verônica, mulher de Renan, que defendeu o marido. Restou a imagem do homem que pecou, mas que depois foi vítima da cobiça insaciável por grana de uma ex-namoradinha.

Renan espera que o corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), fiscal do comportamento dos seus pares, cumpra logo com o seu dever: assine um relatório que o absolva da suspeita de ter usado dinheiro de Gontijo para pagar algumas de suas despesas. E assim deverá ser. Tuma antecipou na semana passada sua intenção de absolver Renan.

O relatório de Tuma será encaminhado ainda esta semana ao Conselho de Ética do Senado, onde o governo dispõe de larga maioria de votos para aprová-lo. Em seguida, o Conselho arquivará o pedido do PSOL para que Renan responda a processo por quebra de decoro — e não se falará mais disso.

Se quisesse, o Conselho poderia fazer uma análise minuciosa da contabilidade de Renan. O que ele declarou de “ganhos agropecuários” daria de sobra para sustentar Mônica e a filha. O problema é que as datas de saques de dinheiro em banco não coincidem com as datas em que Gontijo entregou a Mônica dinheiro em espécie.

Talvez fosse o caso de o Conselho esmiuçar os tais “ganhos agropecuários”. Muita gente se vale deles para justificar despesas ou a ampliação do patrimônio. Talvez fosse o caso, ainda, de ouvir Gontijo, Mônica e o próprio Renan Calheiros. Ou de acionar a Receita Federal para passar a limpo os rendimentos da trinca.

Não deveria restar a menor sombra de suspeita sobre a conduta de quem preside o Senado e o Congresso — mas o Conselho tem pressa de salvar Renan. Pouco se lhe dá que a reabilitação de Renan se faça às custas de mais um naco de prestígio do Senado.

E que doravante Renan corra o risco de virar um dócil refém dos interesses do governo.

O Senado é melhor do que o céu, conferiu o ex-senador Darcy Ribeiro (PDT-RJ). Funciona como um elegante e luxuoso clube exclusivo para 81 sócios. Ali, quando qualquer um deles se sente ameaçado, os outros costumam socorrê-lo. O instinto de sobrevivência do grupo manda todos os escrúpulos às favas.

De resto, Renan é um homem cordato, humilde, conciliador, paciente, que sabe fazer amigos e influenciar pessoas.

A literatura policial vende a ficção de que não existe crime perfeito. Existe, sim. E se por acaso Renan cometeu um, o dele está destinado a se tornar perfeito por decisão dos que deveriam investigá-lo — e que não o farão.

4 comentários:

cereal disse...

Amigo é coisa para se guardar do lado esquerdo do peito, mas não para pagarem as nossas contas.
Os lobistas mais bem sucedidos são aqueles que possuem como seus amigos os que ocupam o poder.
Mesmo que seja verdade do Renan Canalheiros que quando o lobista foi trabalhar na Mendes Junior já era seu amigo, em nada diminui a promiscuidade da relação de amizade.
Teria sido o lobista contratado se não fosse tão próximo de Canalheiros?

Kozel® disse...

OLha CK,esse Calheiros é o q há de pior na fisiologia arraigada na política dessa nosaa pobre pátria,pior que ele só mesmo o Sarney,que se bandeia para os grupos que detêm o poder ,do governo dos militares ao Apedeuta,um m fdp que só rouba.

cereal disse...

E a operação Xeque-Mate será que o nome é uma alusão ao "Rei"?
Pelo menos está chegando na família do rei nú.

cereal disse...

Do Correio Brasiliense.

Renan mudou imposto para justificar gastos
Investigação da Receita Federal revela que o presidente do Senado, Renan Calheiros, retificou declarações do Imposto de Renda depois da denúncia de que teve despesas pessoais pagas pelo lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior. Nas retificações, foram incluídas duas fazendas e parte dos rendimentos com atividade rural. Essas informações, antes omitidas ao Fisco, foram usadas pelo senador para justificar que ele mesmo teria bancado pensão e aluguel para a jornalista Mônica Veloso, e não o lobista. O Conselho de Ética do Senado decidiu abrir processo para investigar o caso. Ao depor, ontem, Gontijo reforçou a versão de Renan, dizendo que apenas intermediava o pagamento, fazendo depósito em conta da jornalista. Foi contestado por Mônica. Ela disse que recebia em dinheiro vivo. E se dispôs a mostrar extratos bancários para provar que fala a verdade.